Hugo Hermes terá prometido a casal intentar ação sobre terrenos. Pediu-lhe dinheiro até para pagar à Judiciária.
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Um advogado, residente em Vizela, foi recentemente acusado pelo Ministério Público (MP) da Póvoa de Lanhoso de um crime de burla qualificada. Terá levado um casal a entregar-lhe um total de 60.250 euros para custas e despesas de um processo judicial que nunca existiu. O advogado chegou a convencer até as vítimas a entregarem-lhe 2600 euros que seriam destinados a pagar a inspetores da Polícia Judiciária para que estes prestassem ajuda no dito processo.
De acordo com a acusação, o casal procurou Hugo Hermes no verão de 2018. O advogado tinha-lhe sido indicado por um amigo que já tinha recorrido aos seus serviços. Marido e mulher tinham um problema com um vizinho sobre a divisão de prédios rústicos.
Logo na primeira consulta, o advogado aceitou tratar do caso e pediu 3600 euros para começar a dar andamento ao processo. Também solicitou a entrega de uma série de documentos que necessitaria para tratar da divisão de terrenos.
Ao longo de meses, o advogado terá solicitado mais entregas de dinheiro e alegava que as verbas eram necessárias para o pagamento de custas judiciais. A pedido do arguido, as entregas eram sempre feitas em dinheiro, sem que este tivesse passado um único recibo. No entanto, segundo o MP, por várias vezes o casal deu o dinheiro ao advogado na presença de testemunhas.
Mulher desconfiou
Ao fim de algumas entregas e sem nunca saber qual o estado das ações judiciais, a mulher confrontou o arguido e exigiu saber qual era o andamento do processo e em que tribunal tinha sido intentado. A acusação garante que Hugo Hermes procurou sempre dar respostas evasivas, mas afirmou que o processo estava a correr termos em Braga.
A mulher foi aceitando as justificações, mas acabou por se deslocar ao Tribunal de Braga, apesar de o advogado lhe ter pedido para não ir, alegando que os funcionários judiciais não gostavam de atender queixosos. A vítima foi informada de que não corria nenhum processo contra o seu vizinho e voltou a confrontar Hugo Hermes. O advogado assegurou que, afinal, a ação fora intentada no Porto.
Passaram mais umas semanas e o advogado voltou a pedir dinheiro ao casal. Agora era para pagar os serviços de inspetores da PJ, que iriam acelerar o processo. O casal lá voltou a dar 2600 euros e, em dezembro de 2018, foi vítima de novo pedido. Eram 10 mil euros, que Hugo Hermes pedia emprestados, mas que não recebeu, já que o casal começou a desconfiar seriamente dele. Marido e mulher chegaram a pedir os recibos ao advogado, que se terá recusado a passar qualquer fatura, alegando que só no final do processo é que iria emiti-los. Ainda de acordo com a acusação, a mulher apontou todas as entregas de dinheiro num pequeno caderno que acabou por entregar às autoridades quando apresentou a queixa.
Para o Ministério Público, o arguido, "de forma astuciosa e através da criação de uma relação de ascendente e confiança sobre os ofendidos e do plano ardiloso, criando um artifício, de que era um advogado diligente e competente, deu uma aparência de verdade e aproveitou-se da ignorância, boa-fé e vulnerabilidade devido à idade dos ofendidos".