De março de 2020 a junho de 2022, as autoridades portuguesas e brasileiras apreenderam quase dez toneladas de cocaína compradas, no Brasil e na Colômbia, pela rede criminosa liderada por Rúben Oliveira, o narcotraficante apelidado de "Xuxa".
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A droga foi detetada nos porões de aviões e em contentores transportados por navios, durante fiscalizações de rotina, mas também na sequência de vigilâncias levadas a cabo pela Polícia Judiciária (PJ). Noutros casos, só a falta de sorte impediu "Xuxa" de ter acesso a centenas de quilos de estupefaciente.
Segundo o Ministério Público, que nesta semana acusou 18 pessoas e duas empresas de tráfico de droga e associação criminosa, a primeira apreensão relacionada com a organização de Rúben Oliveira ocorreu no início de 2020, depois de o português ter ido ao Brasil negociar com o major Sérgio Carvalho, conhecido por "Escobar brasileiro", a aquisição de 72 quilos de cocaína. A droga nunca chegou a Portugal, porque uma operação da Polícia Federal descobriu três malas suspeitas, num compartimento destinado à bagagem da tripulação, de um avião que se preparava para descolar do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo.
Malas com droga deixadas no avião por engano
No mês seguinte, uma fiscalização aleatória da Autoridade Tributária detetou 107 quilos de cocaína, com mais de 93% de pureza, escondidos entre sacas de café enviadas do Brasil para o porto de Sines. E, em junho e julho, "Xuxa" ficou sem mais 300 quilos de droga, 240 deles traficados em oito malas postas no porão de um avião, que aterrou no Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa.
Funcionários de uma empresa de handling ao serviço da rede de narcotráfico conseguiram aceder facilmente à aeronave, mas, por engano, trocaram duas das malas com droga por outras de passageiros. A reclamação feita pelos proprietários da bagagem levou a PJ ao produto estupefaciente.
Contentor mal colocado ficou inacessível
Em fevereiro de 2021, o azar voltou a bater à porta de Rúben Oliveira. Um contentor com farpas de ferro encobria 220 quilos de droga, mas a organização não conseguiu aceder-lhe quando este chegou ao porto de Leixões. O contentor ficou encostado a uma estrutura igual, tornando impossível a abertura das portas, e seria seguido pela PJ que, num armazém de Vila Nova de Gaia, apreendeu a cocaína.
Entre outras apreensões, a PJ apanhou ainda 400 quilos dissimulados em caixas de ananases enviadas para o porto de Setúbal e, na sequência de um alerta da Autoridade Tributária, outros 328 quilos num contentor oriundo da República Dominicana.
Negócios com cartel de Pablo Escobar
Em fevereiro de 2022, foi uma vigilância da PJ a permitir apreender 354 quilos de cocaína entre mais de sete toneladas de papaia, transportadas num avião que aterrou em Lisboa. Este golpe na rede criminosa levou a que Rúben Oliveira fugisse para o Dubai, mas não o afastou do narcotráfico. Três meses depois, "Xuxa" viajou para a Colômbia e negociou com o cartel de Medellin, fundado por Pablo Escobar, a compra de oito toneladas de droga.
A droga, escondida em caixas de bananas transportadas por cargueiros que atracaram no porto de Setúbal, nos dias 3, 9 e 16 de junho de 2022, foi toda apreendida. A operação seria comunicada pela PJ no dia 23 do mesmo mês e, no dia seguinte, "Xuxa" foi detido numa rua dos Olivais.