Abel Marques garante que ex-banqueiro não mostrava sinais de nervosismo, nem de depressão. Causídico apresentou queixa no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos em nome do fundador do BPP.
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O advogado de João Rendeiro em Portugal considera "estranho" que o ex-banqueiro se tenha suicidado nesta altura e vai exigir uma investigação minuciosa às circunstâncias de uma morte que deixou em "choque" a esposa Maria de Jesus Rendeiro. Ao JN, Abel Marques confirma que apresentou uma queixa no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos (TEDH) relativamente ao julgamento em que Rendeiro foi condenado em Portugal e que está a ponderar avançar com uma segunda ação judicial, devido às condições de detenção que o fundador do Banco Privado Português (BPP) enfrentou na África Do Sul.
Abel Marques admite que, sobretudo após a fuga de Portugal, João Rendeiro chegou a pensar em suicidar-se e que disso deu vários sinais. "Inclusive na entrevista que deu a um canal de televisão, na qual disse que não voltaria a Portugal. Tinha a ideia de liberdade ou morte", lembra.
Contudo, o advogado que defendia os interesses de Rendeiro em Portugal assegura que, atualmente, nada fazia prever que o ex-banqueiro decidisse pôr termo à vida. "Não andava nervoso, nem deprimido. É possível que as condições em que estava detido e o facto de ter ficado, recentemente, sem advogada tivessem alterado o seu estado de espírito, mas nunca falou em suicídio", relata.
Por esse motivo, Abel Marques classifica de "estranho" o modo como João Rendeiro foi encontrado sem vida, numa cela de Westville, uma das prisões mais perigosas da África do Sul. "Ele ter-se matado neste momento é estranho", repete. O causídico, que ainda não conseguiu contactar as autoridades sul-africanas, alega que, perante o cenário descrito, "é fundamental saber o que se passou" e vai exigir uma investigação rigorosa ao caso.
Pressão pública determinou pena exagerada
Abel Marques avança, igualmente, que a família de Rendeiro ficou em "choque" com a morte do fundador do BPP e que esta, nomeadamente a esposa Maria de Jesus Rendeiro, ainda não apresenta condições para tratar da trasladação do corpo, um processo que antevê "demorado".
Demorado será também o processo que decorre no TEDH. "Apresentei há três meses, por indicação de João Rendeiro, uma queixa, relativamente ao julgamento realizado em Portugal e cuja sentença transitou em julgado", afirma. Nesta queixa, Rendeiro lamenta ter sido julgado mais do que uma vez pelos mesmos factos e de ter sido condenado a uma pena "manifestamente degradante e que o levou a fugir". A queixa no TEDH defende, igualmente, que foi a "pressão pública que influenciou a aplicação de uma pena exagerada".
No TEDH poderá entrar, em breve, uma segunda queixa em nome de João Rendeiro. "Estamos a ponderar", declara Abel Campos, que explica que, a concretizar-se, este segundo processo irá incidir nas condições de detenção que o antigo presidente do BPP enfrentou na cadeia de Westville.