Clemens Weisshaar planeou vida com uma estilista inglesa e com o filho numa casa na serra de Grândola. Fim do namoro deitou tudo a perder.
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Clemens Weisshaar tinha o sonho de reabilitar uma antiga escola primária na serra de Grândola para viver com a namorada e o filho. Até queria construir ao redor uma pista de motocrosse para o pequeno Tasso. Mas a companheira deixou-o, em julho, depois de cinco anos juntos, e a frustração tomou conta do conhecido designer.
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No domingo, uma semana depois de estar desaparecido com o filho, os corpos foram encontrados num cenário macabro, a dois quilómetros da casa de sonho do alemão. Tasso estava carbonizado, dentro do carro do pai, e este matou-se com um tiro na cabeça.
Na noite do desaparecimento, 1 de novembro, na Taberna dos Musqueirões, onde Clemens se dirigia diariamente para conviver com os empregados da obra que decorria no outro lado da estrada, o proprietário Rui Ermidas foi surpreendido pelos pirilampos da Guarda. "Os militares da GNR vieram perguntar se tinha visto o homem. Estava desaparecido com o filho e, desde aí, todos os dias passavam aqui à procura dele. Parecia que tinham de o encontrar rapidamente, senão o homem fazia alguma coisa...", conta Rui Ermidas.
Ainda ao JN, aquele alentejano confirma o empenho do alemão na obra. "Na sexta-feira anterior ao desaparecimento, ele esteve a almoçar com os empregados da obra e estava muito bem disposto", diz Rui Ermidas, de 57 anos. Rui também se lembra de Tasso, o filho. "Era costume vir ele, a mulher e o menino para almoçar, estavam sempre bem dispostos, mas, desde o verão que nunca mais vi o menino nem ela", afirma.
Enquanto acompanhava, animado, as obras, o designer enviava mensagens à ex-companheira com o intuito de retomar a relação, mostrando que estava bastante deprimido. E conseguiu convencê-la a voltar a ver o filho, no dia 30 de outubro, e a ficar com ele até à segunda-feira seguinte.
Na noite do dia 1, sem Clemens nem Tasso à vista, a mulher, Phoebe Arnold, alertou as autoridades para o desaparecimento, fazendo logo temer o pior. A mulher mostrou à PJ e GNR as mensagens que Clemens lhe enviava, evidenciando um estado de frustração. Foi logo montada uma operação para localizar o alemão e o filho, mas sem sucesso.
Entrevista - Carlos Poiares (Psicólogo clínico e professor universitário)
"Nem sempre há sinais de alerta"
O que leva um pai a matar o próprio filho?
Cada caso é um caso. O que conhecemos de outras situações diz-nos que pode ter havido uma alteração das faculdades mentais do sujeito. Por outro lado, uma disputa pelas responsabilidades parentais, no auge, já levou a situações destas. No fundo, remete sempre para questões de saúde mental.
Há sinais que um pai ou uma mãe podem fazer algo tão trágico?
Nem sempre há sinais de alerta e nem sempre são evidentes. É preciso conhecer o caso concreto, a situação dos pais, o contexto em que viviam, os comportamentos recentes... Quando há um conflito nas responsabilidades parentais, um acompanhamento pelo tribunal ou, no terreno, pela Comissão de Proteção de Crianças e Jovens pode ter um papel crucial. Havendo suspeita fundada, uma ação atempada e o acompanhamento de psicólogos poderão travar uma escalada emocional e um fim trágico.
E agora como se pode apoiar esta mãe?
A perda mais irreparável é a perda de um filho, seja qual for a sua idade. Um filho praticamente bebé, morto pelo pai, gera um sofrimento muito difícil. Pode gerar sentimentos de culpabilidade completamente infundados. Tem de ser acompanhada e será necessário muito apoio psicológico e psiquiátrico para que um dia consiga seguir a sua vida.