Um apicultor de Vila Real acaba de ser condenado a uma pena de prisão de um ano e quatro meses, mas suspensa na sua execução, por perseguir uma estudante que tinha rejeitado os seus avanços amorosos. Entre 2017 e 2019, além de a seguir e importunar a vítima em diferentes locais, o produtor de mel enviou-lhe centenas de mensagens, ora amorosas, ora ameaçadoras, e até lhe enfiou dois ninhos de vespas na caixa de correio.
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O arguido, de 35 anos, recorreu da sentença de primeira instância, mas, a 24 de janeiro, o Tribunal da Relação de Guimarães decidiu manter a pena de prisão. O homem também ficou proibido de contactar por qualquer meio a vítima, hoje com 23 anos, não lhe sendo permitido aproximar-se da sua casa e do seu local de trabalho. Para o efeito, vai ser fiscalizado por meios de controlo à distância. Mas a suspensão da pena será ainda condicionada à frequência de um programa específico de prevenção de condutas típicas de perseguição.
Um pesadelo em "full-time"
O caso teve início em novembro de 2017. A então estudante aceitou a proposta de um produtor de mel para o ajudar, em regime de part-time, ao fim de semana, numa loja do mercado de Vila Real. Porém, passado algum tempo, a jovem decidiu ir-se embora, porque ele queria que ela trabalhasse mais tempo. Aí, começaram verdadeiramente os problemas.
Além de não se conformar com a sua saída, o produtor de mel começou a insistir para que ela se envolvesse com ele numa relação amorosa, mesmo sabendo que a mulher tinha namorado. Depois, enviava-lhe mensagens escritas sem parar, telefonava-lhe e rondava a sua casa, o ginásio e o novo local de trabalho.
Segundo o tribunal, o desatino foi ao ponto de o produtor de mel decidir enfiar, nos dias 12 e 19 de setembro de 2018, "ninhos de vespas" na caixa de correio de casa da jovem. Esta ficou com medo e apresentou queixa às autoridades.
Em fevereiro de 2019, quando saiu do ginásio, a mulher viu que o carro dele estava a bloquear o seu. Estava a pousar o saco no banco e foi surpreendida pelo ex-patrão, que, aos berros, gritava: "Tens de retirar a queixa". Foi salva por uma funcionária do ginásio, que a levou para o interior do mesmo. O arguido ainda tentou segui-la, mas foi impedido.
Teve de receber apoio psicológico
Outro dos casos mais perturbadores ocorreu em junho de 2019, durante as festas populares da localidade. Quando a jovem se dirigia para o carro, o homem abordou-a e chamou-lhe "canalha" e "estúpida", acusando-a de não saber pensar pela própria cabeça. Ela fugiu, assustada, a correr, perseguida por ele. Tentava telefonar à polícia, quando ele lhe arrancou o telefone das mãos. Mas, aí, ela gritou que a tinham roubado e alguns transeuntes agarraram-no e tiraram-lhe o telefone. Ele ainda tentou avançar para a jovem, mas foi impedido pelas pessoas presentes.
A jovem vivia amedrontada e com medo de sair à rua sozinha, receando pela própria vida. Inclusive, necessitou de acompanhamento psicológico. Até que, a 29 de setembro de 2021, o arguido foi condenado, no Tribunal de Vila Real, pelo crime de perseguição. Interpôs recurso para a segunda instância, mas esta manteve a sentença.