O grupo de 17 homens acusados de 133 crimes começou, esta quarta-feira, a ser julgado no Tribunal de Viseu. "Eu não tenho nada a ver com isto nem com esta gente", declarou um dos dois arguidos que aceitaram falar ao coletivo de juízes.
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Os arguidos são suspeitos de falsificar documentos bancários para se apoderarem de automóveis de gama alta que estavam à venda na Internet. Para isso, fizeram-se passar por médicos e construtores civis, "com uma situação financeira abastada", ao responderem a anúncios, feitos na Internet, de automóveis de gama alta usados, acusa o Ministério Público, acrescentando que, depois, aqueles simularam pagamentos, por transferência bancária, e revenderam as viaturas, a preços de saldo, em Espanha.
António Silva, conhecido por "Toy", começou por negar todos os factos de que é acusado e garantiu nada ter a ver com a rede criminosa. "Eu não tenho nada a ver com isto nem com esta gente. Apenas me vieram [Fabrízio Soares e Elton Prudêncio] oferecer um carro e eu procurei um comprador", lembrou.
O arguido contou ainda que o veículo em causa, um Nissan GTR, estava à venda por 60 mil euros e tinha um amigo interessado no negócio, em Badajoz. A verdade é que o negócio não chegou a ser concretizado, porque o amigo de António começou a desconfiar dele, a partir do momento em que Fabrízio e Elton se mostraram disponíveis para baixar "demasiado" o preço do veículo.
António Silva, que inicialmente fez parecer que o encontro com os outros dois arguidos não tinha passado de uma ocasionalidade, conhece a família de ambos e chegou a emprestar-lhes dinheiro (1000 euros).
"Os compromissos têm de ser cumpridos, senão há consequências", referiu. O dinheiro foi-lhe foi devolvido mais tarde, mas disse não se lembrar nem como nem quando.
Já o arguido Ivan Gregório, de nacionalidade brasileira, referiu ser advogado e ter sido procurado por Fabrízio Soares, "o cabecilha do grupo", que conhecia por já ter sido seu defensor noutro processo.
Foi no escritório de Ivan que terá sido falsificado um comprovativo de assinaturas para a compra de um veículo. O arguido explicou que nunca chegava a estar presencialmente com o suposto vendedor e com comprador dos carros. "Não era muito correto, mas era assim que fazíamos", confessou Ivan Gregório, que considera ter sido enganado.
"Jamais poderia imaginar que essas pessoas iriam sair do meu escritório com um documento e cometer um crime", sublinhou o advogado.
"Cabecilha é o mais ágil, capaz e astuto"
Da parte da tarde, foi ouvida uma inspetora da Polícia Judiciária (PJ) que procedeu à investigação e inquirição das testemunhas.
Joana Teixeira contou que a investigação começou no dia 7 de agosto de 2020, através de uma denúncia apresentada no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Vila Real, por um homem que ficou sem um Porsche 911, avaliado em 90 mil euros. Os burlões apresentaram-se como sendo pai e filho e, através de dois falsos comprovativos de transferências bancárias, cada uma no valor de 25 mil euros, apoderaram-se do veículo.
A inspetora explicou o "modus operandi" do grupo, que "fazia deste esquema fraudulento modo de vida". "Não tinham qualquer ocupação laboral, viviam de rendimentos ilícitos e atuavam concertadamente em comunhão e conjugação de esforços", acrescentou.
Para a inspetora, "o núcleo principal" do grupo resume-se a seis arguidos, com relações familiares entre si, que se contactam bastantes vezes e que agiram de forma concertada.
O "cérebro", como se intitulava o arguido Fabrizio Soares, acusado de um total de 26 crimes, segundo a inspetora é "o mais hábil, capaz e astuto". "É bastante inteligente e consegue antecipar uma série de situações", explicou.
Foram intercetados pela PJ mais de 60 IMEI"s (código de identificação de um aparelho telefónico) e números de telemóvel.
Todos os veículos foram recuperados pelas autoridades policiais, à exceção de dois, que ainda se encontram em Espanha: um Porsche e um Mercedes.
O grupo está acusado de um total de 133 crimes de burla qualificada, falsificação de documentos e detenção de arma proibida. Seis dos 17 suspeitos encontram-se em prisão preventiva.