Entre os 52 detidos pela PJ há 14 traficantes que vendiam metralhadoras, pistolas e espingardas. Agente da PSP desviava material entregue para abate.
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Entre as centenas de armas de fogo apreendidas na megaoperação da Polícia Judiciária (PJ) de Vila Real contra o tráfico de armas no Norte do país há espingardas automáticas G3 que terão sido desviadas de Forças Armadas ou de segurança para acabarem nas mãos dos criminosos. Também foram confiscadas várias metralhadoras Kalashnikov importadas do Kosovo pela rede de traficantes de que faziam parte um agente da PSP de Chaves, três armeiros e vários indivíduos ligados ao submundo do crime.
Na quarta-feira, dos 52 detidos, os 14 principais suspeitos, aqueles que tiravam chorudos lucros do negócio, foram levados ao Tribunal de Instrução Criminal do Porto. Os interrogatórios continuam esta quinta-feira.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, os clientes da rede eram indivíduos ligados ao tráfico de droga, aos roubos mas também havia alguns referenciados em tentativas de homicídio. Os exames balísticos irão agora apurar se algumas das armas apreendidas - entre as quais se encontram também pistolas, carabinas e caçadeiras - foram usadas em crimes violentos por desvendar.
As armas e os milhares de munições apreendidos aos criminosos impressionaram a PJ pela qualidade do material. Só G3 foram encontradas sete nas buscas às residências dos 14 traficantes e de mais 38 indivíduos, entretanto libertados, que foram apenas indiciados pela compra de armas. Estes poderão beneficiar de uma eventual suspensão provisória do processo caso decidam colaborar com as autoridades, denunciando quem foi o fornecedor.
A Polícia suspeita que as metralhadoras Kalashnikov tenham sido desmontadas em países do Leste europeu e as peças importadas e depois reconstruídas em Portugal. Muito provavelmente, tal com nas G3, poderá haver militares ou elementos das forças de segurança na origem dos desvios.
Entregas desviadas
Ainda segundo apuramos, os traficantes tinham lucros elevadíssimos. Pistolas compradas no mercado negro em Espanha por mil euros podiam atingir os cinco mil euros em território nacional. Já as armas de guerra podiam ser negociadas a 15 ou 20 mil euros. Foi também apreendida maquinaria destinada a tornar réplicas de armas capazes de disparar balas reais.
Basílio Monteiro, o agente da PSP responsável pelo Núcleo de Armas e Explosivos de Chaves, é suspeito de, para além de facilitar legalizações duvidosas de armamento e fechar os olhos a ilegalidades, encaminhar para os cúmplices armeiros pessoas que pretendiam fazer entregas voluntárias de armas. Uma caçadeira que valia 15 mil euros, por exemplo, era comprada por dois mil euros, depois de o seu dono ser convencido pelo polícia de que era um desperdício entregá-la para ser destruída.
Pormenores
Três quilos de droga
Para além das centenas de armas e milhares de munições, a PJ também apreendeu três quilos de canábis a um indivíduo que também tinha armas ilegais.
Feirante com Porsche
A um dos detidos, um feirante com baixos rendimentos declarados de Vila Real, foi apreendido um Porsche. Dentro do veículo foi encontrada uma arma.
200 buscas
Na operação, batizada "Ibéria" por causa das ligações a Espanha, foram realizadas 200 buscas.