O comandante da Polícia Municipal (PM) de Sintra, Manuel Lage, está debaixo de fogo, depois de ser acusado de "instaurar a desigualdade" entre os agentes. Uma <a href="https://www.youtube.com/watch?v=9EzVVo7rnpQ" target="_blank">gravação áudio</a>, feita numa reunião da PM há mais de três semanas e entretanto difundida na Internet, agravou e trouxe a público o mal-estar interno.
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A gravação reporta uma discussão entre o comandante, major da GNR, e uma agente da PM que o acusa de discriminar profissionais na marcação de escalas. O dirigente sindical dos polícias municipais, Pedro Oliveira, denuncia casos de evidente "favorecimento" e "coação psicológica" em Sintra, dando conta de "sete ou oito processos disciplinares" contra os seus agentes.
"Há aqui um grupo que é marginalizado. (...) O senhor olha [para] a escala e vê que há elementos que não fazem madrugadas, nem fins de semana", ouve-se no áudio a agente a protestar. "E vão continuar a não fazer", responde o comandante, que pergunta: "Mas tu és igual a quem?". "Eu sou igual a qualquer pessoa que vista as minhas cores". O comandante discorda - "Não, não és" - e exalta-se com a persistência da agente: "Eu é que sou o comandante, caralho! Acabou, foda-se! Vocês venham trabalhar. Ponto final. Cada um para o seu servicinho". A agente não se conteve, respondendo a Lage que ele "não é militar aqui dentro": "Vá falar assim para a GNR, não é aqui de certeza", retorquiu.
Nem o presidente da Câmara de Sintra, Basílio Horta, nem Manuel Lage quiseram comentar, ao JN, "a escuta áudio feita de forma ilegal". Por ter sido feita sem consentimento, a gravação já terá seguido para o Ministério Público.
Manuel Lage comanda a PM de Sintra há seis anos, mas a contestação tem subido de tom nos últimos tempos e ganhou novo fôlego com divulgação daquele ficheiro nas redes sociais. Ontem, só no YouTube, já tinha sido reproduzido mais de 27 mil vezes.
Câmara não aceita pressão
Contactado pelo JN, o presidente do Sindicato Nacional dos Polícias Municipais, Pedro Oliveira, comentou que se vive um "ambiente pesado" na PM de Sintra há bastante tempo, a ponto de os agentes, "saturados, começarem a gravar as coisas". Pedro Oliveira fala de casos onde, alegadamente, há evidente "coação psicológica" e "favorecimento". De resto, revelou ainda que o sindicato está a gerir "sete ou oito processos disciplinares" contra agentes da PM de Sintra.
A Câmara de Sintra, por seu lado, só confirmou cinco processos disciplinares, "cujo objeto incluem o eventual abandono do posto de trabalho", acrescentou. Em resposta escrita ao JN, avisou ainda que não aceita "qualquer tipo de pressão externa ou interna" que condicione o decorrer dos referidos processos.
Autarca propôs e ministro fez elogio a "virtudes" de comandante
A 18 de fevereiro de 2020, o então ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho, louvou, por proposta do presidente da Câmara Municipal de Sintra, Basílio Horta, o major Manuel José Teixeira Lage, da GNR, "pelas excecionais qualidades e virtudes militares, manifestadas no exercício das funções de comandante da Polícia Municipal de Sintra e de diretor do Departamento de Segurança e Emergência da Câmara Municipal de Sintra".