Insultos e acusações contra saída de freiras que culpam padre de Mêda de as tratar mal. Só voltam se ele sair.
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O bispo de Lamego acusa uma freira e paroquianos de organizarem uma manifestação para impedir a "prática do culto", obrigando-o a acabar a meio uma missa que tentou celebrar, no domingo passado, na igreja de Mêda. A queixa já foi formalizada no Ministério Público e visa também o cabo-chefe da GNR, por ter estado no local e nada ter feito para acabar com o protesto.
Na origem do tumulto, que juntou largas dezenas de pessoas, está a transferência, a seu pedido, de três irmãs da Congregação das Missionárias Reparadoras do Sagrado Coração de Jesus que têm estado ao serviço do Patronato da Mêda de que é diretor o padre da paróquia, Basílio Firmino. Os manifestantes culpam o pároco, a quem acusam de maltratar as religiosas e causar a sua saída, e o bispo D. António Couto, por não a ter evitado.
As irmãs transferidas já fizeram saber que só regressam se o padre, que também é contestado pelo seu estilo de vida mundano, for afastado.
Revolta
"O povo tentou tudo por tudo para conversar com o padre, com o bispo e com a madre, para saber a razão das irmãs irem embora", contaram alguns descontentes, sob anonimato. "Diziam-nos que eram precisas noutras comunidades, mas o povo não se convenceu e veio a descobrir-se que o motivo era o padre que as tratava mal. As irmãs queixavam-se de que sofriam pressão psicológica e não aguentaram", explicam.
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As três freiras fizeram queixa na Congregação. "A intenção era a de que a madre fizesse frente ao padre mas, em vez disso, ela levou as irmãs, às escondidas, no sábado, véspera da missa", referem os paroquianos.
O Patronato foi deixado à comunidade da Mêda pela benemérita Maria do Carmo Lacerda, para ajudar desfavorecidos e crianças, missão que era desempenhada pelas irmãs e que os revoltosos consideram estar posta em causa. "Sentimo-nos indignados porque a D. Carminho deixou a casa para ser dirigida pelas irmãs, não é para o padre fazer o que quiser. Ele chega lá, põe e dispõe e não dá satisfações a ninguém", afirma uma das manifestantes, certa de que "o padre quer mudar aquilo tudo e tirar as freiras de lá".
Manifestação "sem tino"
A diocese já negou ontem, em comunicado assinado pela Vigararia Geral com o título "Crime de ultraje a sentimentos religiosos e profanação de objeto de culto", qualquer responsabilidade no caso, como já dera conta, garante a nota, às alegadas mentoras dos "grupos de contestação organizados que aos gritos insultaram o sr. bispo e o pároco por estes terem expulsado as irmãs". Mesmo assim, D. António Couto e o padre Basílio começaram a missa, mas terminaram-na pouco depois, dado o barulho à porta.
Para o bispo, a "manifestação e tumulto encenados", foram também "sem tino" e "sem prévia e devida autorização, impedindo toda uma comunidade dos fiéis de celebrar a sua fé", direito que consagram a Constituição e a Concordata.
O chefe da GNR no local também é visado por entrar no "templo armado e não com o propósito e atitude de rezar". Diz a diocese que foi o próprio D. António a questionar porque continuava o barulho. "O sr. cabo-chefe da GNR respondeu ao sr. bispo que as pessoas tinham direito a manifestar-se".
A queixa no Ministério Público foi feita, conclui o comunicado "(...) pela gravidade dos factos, e pela incúria, mormente de quem tem o dever de manter a ordem, e para que tais abusos não se voltem a repetir, nem na Mêda nem em lado nenhum (...)".
Reação
Diretor do colégio em Roma apoia bispo de Lamego
"A quem se viu ferido por causa de uma manifestação ilegal, fica a minha solidariedade", escreveu ontem, na rede social Twitter, o padre José Patrício, reitor do Pontifício Colégio Português, em Roma, desde o ano passado. O sacerdote, natural da diocese de Lamego, foi diretor do Gabinete de Imprensa da diocese e é tido como muito próximo de D. António Couto.
Pormenores
Diocese em silêncio
O JN questionou a diocese, a Congregação das Missionárias Reparadoras e a GNR, sem resposta. Também o padre Basílio Firmino, contactado por todos os meios disponíveis, não reagiu.
Até um ano de prisão
O título do comunicado da diocese - "Crime de ultraje a sentimentos religiosos e profanação de objetos de culto" - remete para o artigo 251.º do Código Penal que prevê até um ano de prisão ou multa até 120 dias para "quem publicamente ofender outra pessoa ou dela escarnecer em razão da sua crença ou função religiosa, por forma adequada a perturbar a paz pública", ou "profanar lugar ou objeto de culto ou de veneração religiosa, por forma adequada a perturbar a paz pública".