Dizem em carta aberta que objetivo de manifestação "nunca foi a proibição do culto religioso nem a proibição da entrada dos fiéis na igreja".
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Os paroquianos da cidade da Mêda escreveram uma carta aberta ao bispo de Lamego, a esclarecer os motivos da concentração realizada no passado domingo, 15 de agosto, na paróquia local, contra a saída de três freiras que estavam ao serviço do patronato. Alvo de queixa-crime do bispo, por terem interrompido a missa que este tentou celebrar no domingo, os paroquianos garantem nada temer e prometem lutar, acusando ainda D. António Couto de virar "as costas ao povo".
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Como noticiou na quinta-feira o JN, a Vigararia Geral da Diocese de Lamego acusou uma freira e paroquianas de organizar uma manifestação para impedir a "prática do culto". A queixa foi formalizada junto do Ministério Público e visa também o cabo chefe da GNR de Mêda, por ter estado no local e, alegadamente, "nada ter feito para acabar com o protesto".
"Nada tememos!", diz em carta aberta o grupo de paroquianos autointitulado "Povo de Mêda". A manifestação "foi um ato de expressão democrática e de liberdade religiosa", argumentam, afirmando-se "disponíveis para prestar os esclarecimentos necessários às entidades competentes".
Na carta pública pode ler-se que "o objetivo da manifestação nunca foi a proibição do culto religioso nem a proibição da entrada dos fiéis na igreja", mas "tentar falar com o bispo, já que até aqui todas as tentativas foram infrutíferas", alegam.
Na carta diz-se ainda que o bispo dividiu o povo entre "os crentes" e "não crentes", conforme os que estavam dentro ou fora da igreja. "É uma expressão que nos fere", contestam.
Os contestatários pedem ao bispo que diga a "verdade" sobre a saída das freiras ao "povo ao qual virou as costas e nem se dignou a responder". "Se o silêncio é a resposta do senhor bispo, o povo terá sempre a última palavra a dizer", prometem.
Saída sem dignidade
Numa primeira carta aberta, o "Povo de Mêda" já tinha pedido "encarecidamente (...) para que as irmãs não abandonassem o patronato", mas sem sucesso. Os paroquianos afirmam que as freiras "por quem têm devoção" saíram sem a "dignidade que mereciam".
"No dia seguinte assistimos ao episódio que nunca imaginaríamos: um pároco e um bispo saírem vaiados e sem essa mesma dignidade. Estranhos os desígnios de Deus, sr. bispo", concluem.
Pormenores
Igreja em silêncio
O JN questionou a Diocese, a Congregação das Missionárias Reparadoras e o padre Basílio Firmino, mas sem sucesso.
Um ano de prisão
A lei prevê até um ano de prisão ou multa até 120 dias para quem "ofender outra pessoa ou dela escarnecer em razão da sua crença ou função religiosa,", ou "profanar lugar de culto por forma adequada a perturbar a paz pública".