PJ e Fisco detetam transferências bancárias de 70 milhões. Negócios de 15 jogadores do Benfica e Sporting.
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É suspeito de ter movimentado de forma fraudulenta pelo menos 70 milhões de euros, em parte provenientes de transferências de jogadores do Benfica e do Sporting, através de contas estrangeiras e nacionais. Mas César Boaventura, ontem detido pela Polícia Judiciária (PJ), não declara um cêntimo de rendimentos em Portugal há cerca de dez anos, apesar de ostentar carros, imóveis e viagens de luxo nas redes socais e aparecer na intermediação de transferências de jogadores. Dois outros empresários, tidos como cúmplices do agente de futebol, também foram detidos por crimes de fraude fiscal, burla qualificada, falsificação informática e branqueamento.
Com base em informações recolhidas pela PJ, iniciou-se uma investigação, no ano passado, que levou à criação de uma equipa mista com elementos da Direção de Finanças do Porto. De acordo com os indícios até agora apurados, Boaventura recebeu comissões de transferências de atletas do Benfica e Sporting através de empresas sediadas no estrangeiro, geridas por cúmplices. Pelo menos uma delas tem sede no Reino Unido.
Depois, ainda segundo a investigação, Boaventura montou um esquema para que o dinheiro das comissões faturadas lá fora regressasse a Portugal. É nessa parte que entram os dois cúmplices, com empresas no Norte do país. Uma delas, ontem alvo de buscas, foi a FC&C, criada há cerca de seis anos na Madeira, com o comércio de madeira como objeto social. Este ano mudou-o para gestão de carteiras de profissionais desportivos e intermediação na compra de venda de passes no mesmo setor.
A outra é uma empresa metalúrgica, gerida por Ramiro Viana. As duas terão passado faturas às firmas estrangeiras com o único propósito de colocar o dinheiro em Portugal, sem levantar suspeitas. Os dois empresários receberiam uma comissão pelas verbas que transitavam pelas suas contas e que tinham como destinatário Boaventura.
Waldshmidt e Odisseas
Entre as transferências de jogadores que a PJ e o Fisco querem passar a pente fino estão as de Luca Wald- schmidt e Odisseas Vlachodimos, mas também as de Lisandro Lopez, Florentino, Gedson Fernandes, Gabigol e Facundo Ferreyra.
Com estas transações fictícias e usando contas bancárias de testas de ferro em Portugal e no estrangeiro, os detidos "lograram criar um intrincado esquema de faturação/movimentação financeira que ofereciam tanto como veículo de branqueamento para terceiros, prestando assim esse serviço ilícito pelo qual seriam remunerados, como para ocultação dos proveitos gerados da própria atividade legítima dos próprios e de terceiros, nos setores indicados", precisa a PJ.
Para já, a investigação identificou mais de 70 milhões de euros de "movimentos financeiros" e estima que o principal arguido tenha lucrado pelo menos 1,5 milhões de euros, só com a fuga ao Fisco. Montantes que deverão aumentar.
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