Agente de futebol acusado de ter forjado documentos para fazer acreditar que detinha direitos de imagem de Gedson Fernandes e burlar empresários.
Corpo do artigo
César Boaventura, recentemente acusado de burla, falsificação de documento, fraude fiscal e branqueamento de capitais, foi apanhado numa escuta telefónica da Polícia Judiciária (PJ) a falar com Erik ten Hag - o treinador envolvido em polémicas com Cristiano Ronaldo no Manchester United - para o convidar a orientar a equipa do Benfica. A interceção telefónica é citada na acusação do Ministério Público (MP) do Porto, em que o agente de futebol também está indiciado por ter sacado milhões a empresários, arrogando-se ser detentor dos direitos de imagem do atleta do Benfica Gedson Fernandes, agora no Besiktas.
A escuta foi intercetada na investigação da PJ e da Direção de Finanças do Porto a 1 de julho de 2020. Erik ten Hag ainda era treinador do Ajax, nos Países Baixos, e questionou o técnico sobre a possibilidade da transferência daquele treinador para o Benfica, falando de condições e planos do então presidente, Luís Filipe Vieira. A investigação não apurou, porém, se Boaventura estava mesmo mandatado por Vieira para fazer uma proposta ao treinador que viria a orientar o Manchester United com Cristiano Ronaldo.
Na acusação, a que o JN teve acesso, Boaventura é descrito como um homem enganador que procurava criar a imagem de um empresário de sucesso e com relações privilegiadas no Benfica. Tudo seria encenado para sacar milhões de euros a empresários que lhe entregaram avultadas quantias, julgando genuinamente estarem a investir no negócio do futebol.
De acordo com a acusação, Boaventura, insolvente desde 2014, "entre outras falácias, utilizou o jogador de futebol profissional Gedson Fernandes para dar uma aparência de verdade ao seu estatuto de intermediário de sucesso". "Propalando estar mandatado para o representar a troco do recebimento de meio milhão de euros, quantia que César Boaventura dizia ter pago ao jogador, pela cedência do direito de exploração da sua imagem a sociedades de César Boaventura", diz o MP.
assinatura de Gedson
Em janeiro de 2019, terá fabricado um documento, atestado dessa relação comercial, onde constava a assinatura forjada do atleta, "conferindo uma veste real a uma fantasia criada para iludir a rede dos seus contactos e do mundo do futebol".
Boaventura acabou por mostrar o documento forjado a um empresário metalúrgico da Trofa, Marco Carvalho, mas também ao industrial do têxtil Joe Lima e ainda a agentes de futebol estrangeiros que acabaram por lhe entregar milhões de euros.
Pormenores
Fraude fiscal
A investigação da PJ e da Direção de Finanças do Porto apurou que Boaventura realizava alguns negócios de futebol, mas declarava zero ao Fisco. O MP reclama agora 1,2 milhões ao empresário.
Contas no estrangeiro
Aos empresários enganados, Boaventura alegava ter contas no estrangeiro com saldos de cerca de 30 milhões. Só no Dubai alegou ter 13 milhões.