Botão de pânico não salvou mulher de ser morta à facada pelo ex-marido em Gondomar
Agressor estava proibido de contactar com vítima. Carla foi atacada no local de trabalho, em Gondomar.
Corpo do artigo
Uma mulher de 43 anos foi assassinada pelo ex-marido, esta quarta-feira de manhã, no centro de Gondomar. O assassino entregar-se-ia pouco depois na PSP de Gaia. Carla Dias tinha-se separado em agosto, mas José, 47 anos, nunca aceitou o fim da relação. Em setembro foi detido por violência doméstica e o tribunal proibiu-o de se aproximar de Carla. Isso não o impediu de a continuar a assediar no trabalho e em casa dos pais, para onde tinha ido morar com a filha.
Na manhã desta quarta-feira, pelas 9.25 horas, José foi até à agência de seguros na rua Combatentes da Grande Guerra onde Carla fazia limpezas, antes de ir para a casa da patroa. Carla tinha um botão de pânico para avisar as autoridades se se sentisse em perigo, mas isso não a salvou.
"Ouvimos gritos e fomos bater à porta. Pensávamos que ela podia ter caído", conta uma funcionária da loja contígua. "Ele abriu a porta, ainda com a faca na mão, e passou por nós a correr. Ela estava caída no chão a sangrar. Ainda olhou para mim, mas já não disse nada", acrescentou.
José correu pela rua abaixo até entrar num carro azul e fugir. "Ouvi "Socorro! Socorro!", espreitei para fora da garagem e vi um homem a correr com algo na mão", conta Jorge Oliveira. Só depois é que o mecânico se apercebeu do crime. Quando as equipas médicas chegaram ao local, já nada havia a fazer. Carla estava morta.
Entrega-se na PSP de Gaia
O assassino conduziu até Pedrouços, na Maia, onde deixou o carro. Entregar-se-ia mais tarde na esquadra da PSP de Gaia. Adelino Dias, pai de Carla, soube do ocorrido e foi na sua motorizada até à agência. Ficou em choque e teve de ser assistido pelo INEM.
Jorge Oliveira não deixou Adelino conduzir a "scooter" e levou-o até casa, em São Pedro da Cova. "Estava muito abalado. Só dizia: «matou-me a filha, aquele gajo matou-me a filha»". Jorge diz que o pai da vítima lhe contou que recentemente voltara a avisar a PSP de que José ia acabar por fazer algo de mal à filha. Não adiantou de nada.
Carla saíra de casa em agosto. Levou com ela a filha, hoje com 11 anos. Foi morar para casa dos pais. José nunca se conformou com a separação e começou a perseguir, ameaçar e assediar a "ex".
Carla fez queixa na PSP e em setembro José foi detido. Foi apresentado a tribunal e ficou proibido de se aproximar dela. O processo foi remetido para o Ministério Público (MP). Em janeiro, ao que tudo indica em contexto de luta pelo poder paternal da filha de ambos, José apresentou queixa contra Carla e esta também foi constituída arguida. O processo foi igualmente remetido para o MP.
O JN apurou que a medida de coação de afastamento ainda se mantinha ativa. E que tinha sido atribuído a Carla um equipamento de proteção por teleassistência, também chamado de botão de pânico.
Rondava o carro
Esta quarta-feira, no Bairro de Tardariz, em São Pedro da Cova, onde moravam os pais de Carla, os vizinhos relataram que era habitual José ir até lá à procura dela. "Costumava rondar o carro dela e batia à porta dos pais a insultá-la. Também ia até ao trabalho para a incomodar", contou uma vizinha cuja filha é da turma da filha do casal. Por precaução, uma ambulância do INEM foi enviada para o local por causa do modo como a mãe de Carla, com saúde muito frágil, poderia reagir à notícia.