Aproximação do agressor foi sinalizada pelos técnicos de vigilância, mas Carla Dias garantiu estar em segurança.
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Carla Dias, 43 anos, foi avisada duas vezes da aproximação do marido mas não conseguiu fugir. Em menos de cinco minutos, foi esfaqueada até à morte. José Dias, 47 anos, foi colocado ontem em prisão preventiva.
A medida de coação foi decretada após o mecânico ter confessado o homicídio e admitido que nunca aceitou a separação da mãe da sua filha, de 11 anos. Perseguia-a desde que, em agosto do ano passado, ela decidiu ir viver para casa dos pais, em São Pedro da Cova, Gondomar e, devido às constantes ameaças que fazia, foi detido em setembro último.
Desde essa altura, passou a usar uma pulseira eletrónica para que não se aproximasse de Carla. Esta era, pelo menos, a intenção do tribunal, contudo, anteontem, o dispositivo eletrónico não evitou a tragédia.
O marido de Carla conhecia perfeitamente as suas rotinas e sabia que ela iria limpar uma agência de seguros, na rua Combatentes da Grande Guerra, em Gondomar. Na manhã de anteontem, deslocou-se para o local e atacou-a.
A Direção-Geral de Reinserção e Serviços Prisionais (DGRSP), responsável pela gestão das pulseiras eletrónicas, esclarece que às 8.51 horas foi detetado, pela primeira vez, "sinal de aproximação do agressor à vítima" e que Carla "foi contactada pelos técnicos por telefone e informou ter visto o agressor passar".
Entretanto, o sinal de aproximação desapareceu para ser detetado, pela segunda vez, às 9.19 horas. "A vítima foi novamente contactada às 9.21 horas, tendo referido estar em segurança, sendo que às 9. 24 horas o sinal de aproximação desapareceu. Ou seja, o crime teve lugar neste período de três a quatro minutos".
Faltam técnicos
A Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais defende que este crime é o exemplo da "evidente incapacidade de as equipas locais [de vigilância eletrónica] atuarem atempadamente em todas as situações de violação das áreas restritas a que estão sujeitos os arguidos".
E alega que, "só no núcleo do Porto da vigilância eletrónica, faltam seis trabalhadores, pelo que se verifica uma situação de incapacidade para dar resposta a todas as ocorrências que se registam simultaneamente, como foi o caso" do assassinato de Carla Dias. Versão contestada pela DGRSP. "Esta Direção Geral detetou em tempo real os sinais de aproximação, tendo adotado os procedimentos adequados às circunstâncias, falando, em tempo real de ocorrência, com a vítima", realça.