Bruno de Carvalho negou ter sido o autor moral do ataque à Academia de Alcochete, ontem, no interrogatório a que foi sujeito pelo juiz de instrução criminal, no Tribunal do Barreiro, e no qual terá sido confrontado com várias mensagens de WhatsApp, trocadas entre terceiros e alegadamente comprometedoras quanto ao seu envolvimento.
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O despacho com as medidas de coação para o ex-presidente do Sporting e para o ex-líder da claque Juve Leo Nuno Mendes ("Mustafá") serão conhecidas hoje, embora seja praticamente certo que o Ministério Público (MP) pediu a prisão preventiva de ambos. Ontem ainda, existia a possibilidade de o MP concluir a acusação contra os 40 detidos nesta fase do processo, o que poderá acontecer até ao dia 20. Mas alguns advogados já tinham anunciado a entrada de habeas corpus no Supremo Tribunal de Justiça por considerarem estar esgotado o prazo da prisão preventiva (ver texto na página seguinte).
Os interrogatórios duraram mais de seis horas e aconteceram depois de, no dia anterior, os advogados terem solicitado e obtido o acesso a algumas peças processuais que lhes permitiram preparar a inquirição de ontem.
O MP acredita que terá sido o próprio Bruno de Carvalho, após a derrota do Sporting, na Madeira, contra o Marítimo, a ordenar o ataque, através de contactos com "Mustafá", que resultaram na investida de 43 encapuzados contra jogadores, "staff" e técnicos. Bruno Jacinto, antigo oficial de ligação dos adeptos do Sporting, em prisão preventiva desde 10 de outubro, terá declarado que ouvira Bruno de Carvalho ordenar a "Mustafá" que a Juve Leo fosse "para cima dos jogadores", a 13 de maio, dois dias antes do ataque. Esta tese terá sido reforçada através da inquirição dos 38 arguidos no processo e pela análise dos telemóveis apreendidos.
Segundo informações recolhidas pelo JN, Bruno de Carvalho, perante o juiz de instrução Carlos Delca, negou qualquer envolvimento no violento ataque que deixou feridos ou em choque jogadores e treinadores. Isto depois de confrontado com o conteúdo das mensagens de WhatsApp, todas trocadas entre terceiros, e que a investigação considera que o comprometem. Nenhuma dessas mensagens, apurou o JN, terá sido enviada para Bruno de Carvalho ou por ele. E esta ausência de conversas diretas terá sido uma das suas principais linhas de argumentação.
Respondeu sempre
Bruno de Carvalho terá respondido a todas as questões que lhe foram colocadas sobre as conversas, embora não tenha conseguido explicar algumas das mensagens.
Crítica na investigação é a suposta conversa com "Mustafá, no voo de regresso da Madeira após a derrota com o Marítimo. Também aqui Bruno de Carvalho terá negado qualquer telefonema com o ex-líder da claque leonina. No interrogatório de ontem, Bruno de Carvalho não terá sido confrontado com escutas telefónicas ou com declarações de outros arguidos.
Hoje, às dez da manhã, o ex-presidente do Sporting estará de novo no tribunal do Barreiro para ouvir a decisão do juiz Carlos Delca sobre o seu futuro mais próximo. Para os outros 38 arguidos foi a prisão preventiva.
Juiz de instrução quis tempo para ponderar
O juiz de instrução criminal Carlos Delca ouviu durante seis horas seguidas, ontem à tarde, as defesas de "Mustafá" e de Bruno de Carvalho, seguidas da proposta do Ministério Público sobre as medidas de coação a aplicar. Tendo em conta esta longa jornada de trabalho e a complexidade do caso, Carlos Delca decidiu adiar para esta manhã a sua decisão. Entendeu que o despacho obriga a uma ponderação que não se compadecia, ontem, com o facto de se encontrar ao longo de seis horas debruçado sobre a matéria em causa.