As Polícias têm recebido inúmeras denúncias de roubos vindas de pessoas em confinamento em residências por causa da pandemia. Dados apontam para descida acentuada em março.
Corpo do artigo
12025306
O número de assaltos a estabelecimentos comerciais e a viaturas está em quebra acentuada desde o início da pandemia. A GNR registou menos 106 assaltos a estabelecimentos, menos 85 furtos no interior de viaturas e menos 33 veículos furtados entre os dias 1 e 25 de março, comparando com igual período do ano passado. Embora não o quantifique, também a PSP dá conta de quebras nos crimes contra o património desde a declaração de estado de emergência, apontando ainda que a criminalidade geral desceu 65% e a violenta e grave 55%. Mais vigilância e denúncias de cidadãos em confinamento e mais polícias na rua são as principais razões apontadas.
12026052
Os dados são ainda provisórios mas representam uma tendência, que deverá abranger também os assaltos a residências, e a explicação é consensual entre as duas forças de segurança. As restrições impostas, desde a circulação de pessoas nas ruas ao dever de recolhimento domiciliário, passando pelo trabalho em casa e pelo aumento de polícias nas ruas, levaram toda a gente a passar mais tempo em casa, sem deixar grande margem de manobra aos assaltantes para passarem despercebidos.
"Há mais gente em casa e atenta ao que se passa no exterior. Temos tido muitos alertas de pessoas que estão no domicílio e assistem a tentativas de assaltos", referiu ao JN fonte da PSP, que destaca ainda o facto de o policiamento ter sido "reforçado em todos os períodos do dia". O porta-voz da GNR, capitão David Ferreira, aponta também a mudança nas ruas, transformadas em verdadeiros desertos durante a noite, como obstáculo à criminalidade. "Qualquer pessoa estranha ou movimentações fora do normal são mais facilmente detetadas pelas pessoas e pelas patrulhas", afirma.
Um bom exemplo da colaboração dos cidadãos aconteceu anteontem, em Arroios, Lisboa, onde um casal em isolamento surpreendeu um cadastrado, de 39 anos, a assaltar uma habitação e avisou a PSP. Tinha sido detido e libertado em fevereiro, suspeito de nove assaltos. Agora, ficou preso.
Sobressalto passageiro
No início da crise, ainda o estado de emergência não havia sido decretado, a zona do Grande Porto ficou em sobressalto com os assaltos a dois supermercados e a um talho, na Maia e em Gaia, que coincidiram com um período de grande corrida a bens essenciais. O fecho de cafés e restaurantes, decretado dias depois, levou a temer uma vaga de insegurança que, ao que tudo indica, não se verificou.
"Contacto permanente"
A Associação de Comerciantes do Porto (ACP) e a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal dão conta da relativa tranquilidade em relação aos assaltos."Não nos têm chegado denúncias. Estamos em contacto permanente com a PSP e garantem-nos que os agentes estão atentos aos estabelecimentos comerciais", realçou Rúben Carvalho, vice-presidente da ACP.
As preocupações para as polícias vieram de outro lado, com o "aumento das burlas informáticas, dos crimes por desobediência e o do abandono de animais", como referiu ao JN o porta-voz da Direção Nacional da PSP, intendente Nuno Carocha. O responsável garante ainda que os sinais de violência doméstica estão também a ter uma atenção especial por parte da Polícia.