Uma mulher de 51 anos morreu, ao final da tarde deste sábado, depois de ter sido baleada na cabeça pelo ex-companheiro, durante a madrugada, junto ao cemitério de Escariz, em Arouca.
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O homem, logo a seguir ao crime, tentou suicidar-se, à frente dos filhos, mas a arma encravou. Então, fugiu, noite cerrada, para ir esconder-se numa escola primária, a cerca de 50 metros do local do crime. E foi aí que tentou de novo o suicídio. Desta vez, cortou os pulsos. Mas voltou a falhar. Depois, apurou ainda o JN, telefonou, pelo menos, a uma filha. Cerca das 11 horas da manhã, entregou-se à GNR.
Juntos há duas décadas
Os protagonistas deste drama têm nome: Adriano Campos, de 52 anos, e Celestina Ferreira, de 51. Ela era gaspeadeira, ele trabalhava na construção civil, mas também abria poços.
Entre filhos em comum e de anteriores casamentos, há seis descendentes, todos crescidos, a que se juntou, há cinco anos, uma menina, que era criada por ambos. Tinham uma história com 20 anos de vida em comum.
Boa parte daquele tempo foi passada na casa em frente ao cemitério de Escariz. Até que, há cerca de um mês, o casal entrou em rota de colisão. Celestina saiu de casa. Mas os encontros de ambos foram-se mantendo.
Sexta-feira, estiveram numa festa nos Bombeiros de Fajões. E, já na madrugada de sábado, começaram a discutir no carro de Adriano, junto à residência onde moraram juntos. Perto da 1.30 horas, um vizinho ouviu a discussão, "bem acesa". Minutos depois, ele disparou contra a companheira.
Adriano saiu do carro, entrou em casa, contou aos filhos o que tinha feito e tentou matar-se. Mas a arma encravou. Adriano fugiu. Dado o alerta, foram para o local os Bombeiros de Fajões, o INEM e a GNR.
Celestina Ferreira foi transportada para o Hospital de Gaia. Mas o seu estado era demasiado grave. Ao final da tarde, não resistiu aos ferimentos na cabeça e morreu. O ex-companheiro tinha sido levado para o mesmo hospital, devido aos cortes nos pulsos.
Uma vizinha do casal, Norvinda Campos, não escondia o espanto. "Foi uma surpresa grande. Sempre achei que se dessem bem. Muito simpáticos e respeitadores, bons vizinhos. Nunca me apercebi de problemas entre eles", contou ao JN.
Diferente é a opinião de um amigo de longa data do casal, que dá conta da personalidade conflituosa de Adriano, em especial quando bebia.
"Não sei o que se passou, mas, nos últimos tempos, ele andava a beber mais. Era trabalhador, agarrava-se a tudo, mas via-se que não andava bem. E as duas famílias, muito numerosas, também tiveram episódios menos agradáveis", referiu ao JN.
Caberá agora à Polícia Judiciária tratar da investigação.
Duas famílias marcadas pelos dramas
Adriano Campos teve 12 irmãos, mas alguns já morreram. Excesso de álcool, acidentes de viação e suicídios levaram-lhe alguns deles, numa vida que se pressente ter sido difícil e marcada pelo trabalho, a que Adriano nunca virou costas. Um dos irmãos, presente no local, quando ainda não se sabia do paradeiro de Adriano, comentava: "Se ele me telefonasse a pedir ajuda, eu ia buscá-lo, mas para o levar à GNR".
O drama também se atravessou na vida de Celestina. Conta um amigo que "o pai dela violou uma filha e suicidou-se, e um dos irmãos está preso por ter violado e tentado matar uma jovem em Gaia [em 2011, tendo sido condenado a 18 anos de prisão]".
Cesaltina Ferreira era gaspeadeira, tendo trabalhado em diversas empresas. Ultimamente, era em sua casa que a operária deitava gáspeas em calçado. A vítima havia saído de casa há cerca de um mês, tendo ido viver com a mãe, na freguesia de Fajões, em Oliveira de Azeméis.