O cabecilha do esquema de furto e venda de armas da PSP a traficantes de droga defendeu-se, quinta-feira, da acusação do Ministério Público (MP), considera-a um equívoco por escutas mal interpretadas.
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Luís Gaiba disse que o dinheiro usado para a compra de um Audi Allroad, por sete mil euros, um frigorífico e uma viagem à Madeira - que o MP acredita resultar de lucros por crimes -, integravam, afinal, poupanças familiares de 15 mil euros reunidas desde 2002, visando comprar um terreno.
O polícia alegou que guardava dinheiro vivo em casa, porque não confia em bancos. "Ganhava cerca de 30 mil euros anuais, gastava um terço em contas fixas, e sempre que conseguia juntava dinheiro em casa", disse Gaiba aos juízes, no Tribunal de Lisboa.
A justificação é diferente da que deu ao juiz Carlos Alexandre, em interrogatório numa fase anterior do processo. Nessa altura, referiu que o dinheiro provinha de formações no Algarve - mas afinal estas foram dadas meses após os gastos.
Ao JN, o advogado Santos de Oliveira considerou que o cliente "complementou o que disse ao longo do inquérito" e recusou qualquer discrepância nas versões.
Luís Gaiba justificou ainda que os códigos "papéis" ou "papelada" que o MP diz serem utilizados entre si e o principal vendedor das armas, António Laranginha, tratavam-se realmente de papéis de que necessitava para o batismo da enteada.
"O António ia ser afilhado da minha enteada e nunca me enviava o certificado de batismo da sua paróquia. Daí nas mensagens insistir nos papéis", disse o arguido. "Carregadores" era outro suposto código, que o arguido disse tratarem-se de carregadores de telemóvel.
Ao longo de 2016, 55 armas Glock guardadas na sede da PSP foram vendidas a traficantes de droga. O esquema, acredita o MP, partiu de Luís Gaiba, então agente responsável pelo armeiro, com a anuência do colega João Chora, que omitia a denúncia de subtração das armas sem receber qualquer vantagem.
os homens de tancos
Luís recorreu a um amigo de confiança, António Laranginha, para recrutar vendedores. Foi desta forma que João Paulino, envolvido no processo de subtração de armamento de Tancos, entrou no esquema. No total, são 12 os arguidos, entre vendedores e compradores das armas policiais, que respondem por associação criminosa e tráfico de armas.
No final da primeira sessão de julgamento, Santos de Oliveira, defensor de Luís Gaiba, considerou que deveria ter sido "a PJ e não a PSP a investigar o caso".
Arguidos em silêncio
João Paulino e António Laranginha, dois dos principais autores do esquema de venda das 55 armas Glock, remeteram-se ao silêncio, na primeira sessão do julgamento. Também a esposa de Luís Gaiba não falou aos juízes. Paulino e Laranjinha estão também no processo do furto das armas de Tancos.
Mil invólucros em casa
Na busca à casa de Luís Gaiba, foram encontrados mais de mil invólucros de munições. O arguido disse que as levou para casa depois de uma formação de tiro e se esqueceu delas. "Como se esquece de mil munições?" questionou a juíza presidente. Por distração, respondeu.