Leandro Santos, que confessou ter matado a ex-companheira por ciúmes, em março passado, em Arcos de Valdevez, foi esta quarta-feira condenado a 19 anos e dois meses de prisão. Fica ainda obrigado a pagar uma indemnização civil de 150 mil euros aos filhos da vítima.
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O arguido, de 38 anos e nacionalidade brasileira, confessou que matou Lucília Brandão, de 53, num caso que remonta a 11 de março passado. O Tribunal de Viana do Castelo, que julgou o caso, deu como provado que o arguido, inconformado com o fim da relação e sabendo que a ex-companheira tinha um novo namorado e ia para França, decidiu matá-la.
Munido com duas facas, dirigiu-se a casa da vítima, em Jolda, depois do almoço, e surpreendeu a ex-companheira de costas com uma das armas, provocando confronto físico entre ambos. A mulher caiu ao chão e o arguido estrangulou-a. Às 16.25 horas, ligou ao 112 a confessar ter matado a mulher e, de seguida, bebeu duas cervejas mini, deixando as garrafas e as duas facas no local. Imagens da câmara de videovigilância instaladas na habitação permitiram registar os gritos da vítima "durante cerca de sete minutos".
Na leitura do acórdão, que decorreu esta quarta-feira, a juíza que presidiu ao julgamento considerou que o arguido agiu com intenção de matar "por ciúmes", por não aceitar o fim do relacionamento, e justificou "a pena severa" com o tipo de crime. "A violência de género tem feito demasiadas vítimas", considerou. "Não fez isto por amor, fez isto por egoísmo", disse a juíza, dirigindo-se a Leandro.
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De acordo com o acórdão, num dos telefonemas que fez aos seus patrões, após o homicídio, o arguido disse que foi até casa da vítima para "matá-la", tendo a juíza considerado que Leandro apresentou "um depoimento contraditório" durante o julgamento. "Chorar agora não tapou a intenção de matar", disse a juíza.
Em tribunal, o cidadão chorou, ajoelhou-se e pediu perdão à vítima e à família, lendo uma carta no final do julgamento. Falando ao coletivo de juízes, disse que "não queria matar" Lucília e contou que a ex-companheira o "pôs fora da casa" em janeiro, alegando que já "não gostava" dele. Admitiu que não aceitou o fim da relação, que durou mais de 12 anos, e que, no dia do crime, se dirigiu a casa da ex-companheira com o objetivo de "conhecer o novo namorado" de Lucília.
"Não fui lá de propósito para a matar. Na minha cabeça, ainda estávamos juntos. Disseram-me que ele [o novo companheiro] estava cá [na freguesia]. Queria conhecê-lo", relatou ao tribunal, onde vários familiares, incluindo filhos e a mãe da vítima, assistiram ao início do julgamento.
"Ela caiu ao chão e agarrei-lhe no pescoço com uma mão e apertei"
Interrogado pela juíza presidente, Leandro Santos contou que, na tarde de 11 de março, entrou "com uma faca na mão" na casa da vítima, que se encontrava de costas a "pôr roupa a secar". Quando o viu, começou a pedir socorro. "Tapei-lhe a boca e disse-lhe 'calma nina, eu não te vou matar'", relatou, adiantando que, entretanto, ambos se envolveram numa luta corpo a corpo. A vítima agarrou na faca e desferiu-lhe golpes numa mão, no queixo e numa perna, contou.
"Ela caiu ao chão e agarrei-lhe no pescoço com uma mão e apertei", disse o arguido, começando a chorar enquanto descrevia o momento. "Tentei reanimá-la. Tinha feito o curso [de primeiros socorros] em Espanha. Mas ela cuspiu sangue", declarou, voltando a chorar e a sentar-se por indicação da juíza. "Liguei para o 112 a dizer que a tinha matado", confessou, recordando que, enquanto esperava pela chegada dos meios de socorro, bebeu duas cervejas porque "estava muito suado". "Gostava muito dela. Nunca lhe fiz mal. Foi a primeira vez", disse ainda ao tribunal, que na sexta-feira de manhã ouviu um dos filhos e a mãe da vítima.
"Fez-lhe a vida negra"
Quando esta última entrou na sala de audiências, Leandro ajoelhou-se a chorar aos pranto. "Ó vó eu não queria", gritou. Maria da Piedade relatou que, nos últimos anos de convivência com a filha, Leandro "fez-lhe a vida negra". "Dava-lhe mau viver. Chamava-lhe nomes, puta, vaca e porca", declarou a idosa, referindo que o arguido "dormia com duas facas debaixo do travesseiro".
Leandro Santos estava acusado de um crime de homicídio qualificado e um de posse de arma proibida. De acordo com a acusação do Ministério Público, o arguido "desenvolveu sentimentos de desconfiança, ciúme e posse" pela ex-companheira, que "não conseguiu controlar" quando "soube da existência de um novo companheiro".