Leandro Santos confessou ter matado a ex-companheira por "ciúmes", na sua residência em Arcos de Valdevez. O cidadão brasileiro de 38 anos, acusado de homicídio qualificado, chorou e ajoelhou-se aos prantos na primeira sessão do julgamento que decorreu esta manhã no Tribunal de Viana do Castelo. O acórdão do homicídio está marcado para 4 de janeiro.<br/>
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O arguido quis falar perante o coletivo de juízes, que está a julgar o caso que remonta a 11 de março deste ano, e apresentou a versão de que "não queria matar" Lucília Brandão, de 53 anos. Contou que a ex-companheira o "pôs fora da casa" em janeiro, alegando que já "não gostava" dele, e admitiu que não aceitou o fim da relação que durou "mais de 12 anos". Defendeu que, no dia do crime, ao início da tarde, se dirigiu a casa da ex-companheira na aldeia de Jolda, munido de duas facas, mas com o objetivo de "conhecer o novo namorado" de Lucília.
"Não fui lá de propósito para a matar. Na minha cabeça ainda estávamos juntos. Disseram-me que ele [o novo companheiro] estava cá [na freguesia]. Queria conhecê-lo", relatou ao Tribunal, onde vários familiares, incluindo filhos e mãe da vítima, assistiram ao início do julgamento.
Interrogado pela juíza presidente, Leandro Santos contou que na tarde de 11 de março, entrou "com uma faca na mão" na casa da vítima a quem tratava por "nina", que esta encontrava-se de costas a "pôr roupa a secar" e que quando o viu começou a pedir socorro. "Tapei-lhe a boca e disse-lhe 'calma nina, eu não te vou matar'", relatou, adiantando que, entretanto, ambos se envolveram numa luta corpo a corpo, e a vítima agarrou na faca e desferiu-lhe golpes com a faca numa mão, no queixo e numa perna.
"Ela caiu ao chão e agarrei-lhe no pescoço com uma mão e apertei", disse o arguido, que começou a chorar enquanto descrevia o momento em que matou a ex-companheira. Face ao estado do arguido a juíza mandou-o sentar. "Tentei reanimá-la. Tinha feito o curso [de primeiros socorros] em Espanha. Mas ela cuspiu sangue", declarou, voltando a chorar e a sentar-se por indicação da juíza. Depois disso acabou o seu testemunho sentado. "Liguei para o 112 a dizer que a tinha matado", confessou, recordando que enquanto esperava pela chegada dos meios de socorro, bebeu duas cervejas porque "estava muito suado". "Gostava muito dela.
"Nunca lhe fiz mal. Foi a primeira vez", disse ainda ao Tribunal, que durante esta sexta-feira de manhã ouviu um dos filhos e a mãe da vítima. Quando esta última, Maria da Piedade, entrou na sala de audiências, Leandro ajoelhou-se a chorar aos prantos, "Ó 'vó' eu não queria....", gritou. Foi retirado do espaço por indicação do Tribunal. Maria da Piedade, relatou que nos últimos anos de convivência com a filha, Leandro "fez-lhe a vida negra". "Dava-lhe mau viver. Chamava-lhe nomes, puta, vaca e porca", declarou a idosa, referindo que o arguido "dormia com duas facas debaixo do travesseiro" e que este "trabalhava à semana, e ao fim-de-semana era borracheira".
Leandro Santos está acusado de um crime de homicídio qualificado e um de posse de arma proibida. De acordo com a acusação do Ministério Público, o arguido "desenvolveu sentimentos de desconfiança, ciúme e posse" pela ex-companheira, que "não conseguiu controlar", quando "soube da existência de um novo companheiro". No dia 11 de março, cerca das 15 horas, deu seguimento a "um plano", dirigindo-se de bicicleta, levando duas facas de cozinha, a casa de Lucília, onde se encontrava instalado, por cima da porta, um sistema de videovigilância. E "aproveitando um momento em que a ex-companheira se encontrava de costas para ele (...) laçou os braços no pescoço dela, apertando, causando a sensação de quase sufoco". E que, durante um "debate físico entre ambos", em que desferiram golpes de faca um no outro, aproveitou a queda desta para "usando do máximo da sua força física, apertou-lhe o pescoço" causando-lhe a morte. Às 16.25 horas ligou ao 112 "dando indicações que matara a sua mulher" e de seguida bebeu "duas cervejas Mini, deixando as garrafas (assim como as duas facas, uma delas partida) no local.
A leitura do acórdão foi marcada para 4 de janeiro às 14 horas.