O tribunal S. João Novo, no Porto, condenou esta quinta-feira a 12 anos de prisão um homem de 54 anos, com residência conhecida no Mogadouro, por 12 crimes, em coautoria, de trafico de pessoas. Havia mais dois arguidos, a mulher e um filho deste arguido, mas, enquanto a primeira "desapareceu" - está declarada contumaz - durante a instrução o processo do filho também foi separado pelo que responderão, ambos, em processos autónomos.
Corpo do artigo
Os factos remontam a 2011, altura em Valdemar e família começaram a angariar trabalhadores para trabalhos agrícolas em quintas de Espanha. Com a promessa de salários que iam dos 30 à hora - para arrancar ervas das vinhas - até à mesma quantia, mas por dia, para a apanha da batata e outros labores da terra.
Com estas promessas conseguiram 12 pessoas, todas com características que iam de iletrados, desempregados e sem retaguarda familiar. Factos que as tornavam presas fáceis.
Chegados a Espanha, para onde foram levados de noite - para dificultar que os trabalhadores se apercebessem do destino final mas também para a família Valdemar escapar a eventuais controlos policiais, foram distribuídos por várias propriedades, ficando alojados em locais indignos. Os infelizes iniciaram então a visita ao inferno.
Trabalhavam sem descanso sete dias por semana e sem salário. A alimentação era miserável. Os que tentavam fugir eram "convencidos", por vários meios, incluindo a força, a retornar à dureza daquela ingrata vida.
Isto durou até 2016, altura em que Valdemar, a mulher, Guilhermina dos Anjos e o jovem Valdemar, filho de ambos, foram denunciados e a PJ que, em colaboração com a Guardia Civil, pôs termo à indignidade da situação.
Libertadas as vítimas e constituída arguida a família de Valdemar, começou o inquérito que, desde cedo, chocou os próprios investigadores pela desumanidade com que os arguidos trataram aquelas 12 pessoas. Quem não quis ir a julgamento foi Guilhermina que cedo desapareceu do radar das autoridades (está declarada contumaz) e o filho Valdemar dos Anjos, que, na fase de instrução, obteve a separação de processos, mas irá brevemente ser colocado diante dos juízes.
Situação degradante
Para explicar a pena, o presidente do coletivo, Pedro Brito, não se poupou na censura, acusando Valdemar de ter explorado as vítimas "até ao limite", tendo como único objetivo "enriquecer", nada incomodado com as "degradantes e desumanas" condições a que as sujeitara.
Além da cadeia, Valdemar terá ainda de pagar uma indemnização de 170 mil euros, com as vítimas a receberem uma parte, 93 mil. O restante reverterá a favor do estado.
Valdemar Correia, que não mostrou arrependimento, já havia sido condenado por factos semelhantes pela justiça espanhola, em 2006.