Viveu enclausurado num apartamento, em Esmoriz, Ovar, durante nove meses a fim de evitar ser colocado na cadeia para cumprir uma pena de cinco anos e meio de cadeia a que fora condenado no âmbito de um processo de fraude de quatro milhões de euros no Centro de Emprego de Penafiel.
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Mas Abel Pires, 45 anos, natural de Lousada, que era angariador de empresários dispostos a pagar luvas para obter subsídios, foi localizado pelo Núcleo de Investigação Criminal (NIC) de Felgueiras e levado para o Estabelecimento Prisional do Porto, onde vai cumprir pena. Tinha sido condenado por corrupção e burla na obtenção de subsídio.
O empresário da construção civil de Lousada foi um dos 66 arguidos do megaprocesso de desvio de subsídios das Iniciativas Locais de Emprego (ILE), que levou à condenação de José Alberto Matos, o antigo chefe de serviço do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) de Penafiel e de Lamego. Recebia luvas para aprovar ILE. O valor da contrapartida era sempre de pelo menos 10% dos subsídios que ele próprio aprovava a empresas que não reuniam os requisitos legais para beneficiar do apoio. De acordo com o acórdão do Tribunal de Penafiel, onde os arguidos foram condenados em 2016, José Alberto Matos foi condenado a 10 anos de cadeia por 32 crimes de corrupção. O Supremo Tribunal de Justiça viria a confirmar a pena em 2018.
Abel, o angariador
Os subsídios a fundo perdido variavam entre os 57 e os 142 mil euros e nunca levaram à criação dos postos de trabalho a que eram destinados. Em contrapartida, os empresários - alguns com firmas criadas só para a fraude - pagavam as luvas ao técnico do IEFP e a cinco angariadores. Abel era um deles.
Desde o trânsito em julgado da decisão, Abel Pires desapareceu de Lousada. As autoridades tentaram várias vezes notificá-lo dos mandados de condução à cadeia, mas sem sucesso.
Recentemente, os investigadores da GNR de Felgueiras conseguiram localizar o homem. Estava num apartamento de Esmoriz, em Ovar, onde raramente saia à rua. "Os militares, após terem descoberto o paradeiro do suspeito, deram cumprimento a esse mandado", adianta a GNR.
Investigação
Subsídios pedidos por donas de casa e toxicodependentes
O caso, que foi investigado pela Polícia Judiciária do Porto, começou com uma denúncia anónima. Em 2008, a PJ fez buscas aos centros de emprego de Penafiel e de Lamego e a casas dos suspeitos, tendo aprendido documentação e cheques e congelado contas bancárias. Apreendeu, ainda, automóveis, incluindo um Jaguar. Alguns dos projetos subsidiados de forma fraudulenta apresentavam como promotores toxicodependentes, empregados domésticos, donas de casa e desempregados.
Pormenores
Devolver milhões
O Tribunal de Penafiel condenou em 2016 Abel Pires a pagar 2,1 milhões de euros para não ficar sem o património que ficou cativo desde o início deste processo. Não terá pagado o valor até agora.
Falecido
No julgamento, três arguidos tentaram atirar culpas para um "angariador" que, ao sentir-se apanhado nas malhas da justiça, pôs termo à vida em setembro de 2013.