Arguido diz que, "se pudesse, voltava atrás". MP admite que o crime não teve "motivo fútil".
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"Ele estava bêbado e ofendeu-me. Chamou-me cabrão, filho da p*ta e mandou limpar a casa com os cornos. Passei-me. Agarrei na faca e matei-o", justificou esta terça-feira o arguido ao coletivo de Juízes do Tribunal de Beja, Manuel dos Santos, acusado da morte do amigo Francisco Ferro, com seis facadas.
Conhecido como "Blé Açorda", de 59 anos, o arguido disse que a vítima, o "Chinês", de 63 anos, "foi atingido com três facadas". E alegou, em contradição com o que dissera às autoridades durante a investigação, que a vítima "estava de frente" para si "e tentou defender-se".
Apesar de o Ministério Público (MP) acreditar que a vítima foi atacada pelas costas - versão corroborada por um inspetor da PJ de Faro, que sustentou que ela "foi surpreendida pelo agressor, não havia sinais de defesa", - o procurador António Marcante defendeu que o arguido deveria ser condenado por homicídio simples e não qualificado, como estava acusado. "Apesar de tudo, não foi por um motivo fútil ou por dá cá aquela palha", justificou o magistrado nas alegações finais.
O advogado de defesa de "Blé Açorda" subscreveu a posição do MP, sustentando também que "está em causa" saber "se o arguido é ou não inimputável". Pinela Fernandes tinha requerido uma avaliação médico-legal ao seu cliente, mas a mesma foi rejeitada pelo tribunal.
O crime ocorreu a 26 de maio de 2020, na casa do arguido, em Beja. A vítima, que também ali vivia, foi atingida com seis facadas no abdómen e no tórax que lhe perfuraram o pulmão e o diafragma do lado direito e lhe provocaram a morte. Após o crime, o homicida saiu de casa e confessou-o na Esquadra da PSP.
Já esta terça-feira, "Blé Açorda" disse estar "arrependido do que fez". "Se pudesse, voltava atrás", declarou.
A leitura do acórdão está marcada para dia 12 de março.