Degolou amigo e pediu a TVDE para atirar corpo ao Douro: “Era ele ou eu. Tive de defender a minha vida”
Austine Benson, de 23 anos, confessou, esta manhã de terça-feira, no Tribunal de S. João Novo, no Porto que matou o amigo num hostel no Bonfim , mas garante que o fez em legítima defesa porque ele o atacou primeiro com uma faca.
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“Eu disse-lhe que tinha de voltar à Holanda. Ele disse que então eu tinha de lhe dar dinheiro para o sustentar. Eu disse que não podia e ele ficou furioso”. Austine disse foi tomar banho e que quando saiu, o amigo atacou-o com uma faca. “Tenho uma cicatriz na mão e perdi o uso de dois dedos por ele me ter cortado”, afirmou, negando ter-se cortado por a mão ter escorregado quando esfaqueava o amigo. Ele defendeu-se, mordeu-o na mão e no peito e conseguiu tirar lhe a faca. Depois golpeou-o, acabando o por o matar. “Era meu amigo. Não queria magoá-lo. Era ele ou eu a morrer. Se estivessem na minha posição o que fariam?”, questionou Austine.
Austine confirmou que depois do crime tapou o cadáver porque é isso que a sua religião ordena. Garantiu que foi procurar ajuda dentro do prédio mas não encontrou ninguém, mas não bateu às portas porque não sabia falar português. Saiu então para a rua. Foi a uma loja e, não soube dizer porquê, comprou um grande saco de viagem, mas não era para colocar o cadáver, assegurou. E não soube explicar porque o corpo da vítima tinha sacos de plástico na cabeça e os pés e mãos amarrados. O nigeriano de 23 anos negou ter planeado matar o amigo e rejeitou ter sido ele a pesquisar sobre “como matar alguém” ou “como se desfazer de um corpo”. Afirmou que o amigo tinha a sua senha de telemóvel e que terá sido ele a fazer essas pesquisas.
Sobre o facto de ter tirado as câmaras de videovigilância do alojamento, disse que foi um estranho que encontrou na rua que lhe disse para fazer isso. Por fim, Austine disse que chamou um uber “para falar com alguém, para pedir ajuda”. O primeiro motorista foi-se embora. O segundo levou-o à polícia. Nunca teve ideia de fugir.
Questionado pelo procurador do Ministério Público sobre o facto de se ter encontrado sémen dos dois nos boxers que deitou ao lixo, Austine disse que não tinha qualquer relação amorosa com ele, eram apenas amigos que se tinham conhecido quando foram estudar para a Ucrânia em 2018.
“Não sou gay. É uma falsa acusação. Não sei como isso aconteceu. Eu tenho mulher e filho. Não sou gay”, reforçou. Mas confrontado com o facto de ter o Grindr e fotos de homens nus no telefone, não soube explicar. Também não sabe porque foi encontrado um preservativo aberto, mas não usado, não é possível, não faço ideia. “São falsas questões do que me querem acusar”, protestou. A juíza fez questão de lhe explicar que ser homossexual não é nenhum crime e que estavam só a tentar perceber as circunstâncias em que tinham ocorrido os factos.
O homem de 23 anos começou esta terça-feira de manhã a ser julgado pelo crime de homicídio no Tribunal de S. João Novo, no Porto. Segundo o Ministério Público (MP), em abril do ano passado, Austine terá repetidamente esfaqueado e mordido violentamente um amigo, de 22 anos, num alojamento local no Bonfim. Depois, ainda terá tentado convencer um motorista de TVDE a ajudá-lo a desfazer-se do corpo, mas acabou por se entregar à polícia. Está acusado de homicídio qualificado, profanação de cadáver e posse de arma proibida.
Os dois amigos, de nacionalidade nigeriana, chegaram ao Porto a 16 de abril de 2023. Segundo a acusação, por razões não apuradas, a dado momento, o arguido decidiu matar o amigo e desfazer-se do corpo."Para garantir a fuga imediata" foi à internet e comprou uma passagem aérea com destino à Holanda para a manhã de 20 de abril, aponta a acusação.
No dia 19 à noite, no interior do apartamento na Rua do Bonfim, Austine muniu-se de uma faca de cozinha e atacou o amigo com grande violência. Esfaqueou-o com múltiplos golpes na região da cabeça, tronco e membros superiores, em particular no pescoço, descreve o MP. Além disso, ainda mordeu a vítima no tórax e no braço direito e arrancou-lhe o polegar.
Chamou TVDE para ir despejar corpo ao Douro
Nessa mesma noite, Austine comprou um saco de viagem de grandes dimensões para transportar o corpo. Desfez-se dos pertences da vítima, procedeu à limpeza do apartamento e desligou as câmaras de videovigilância. Já de madrugada, chamou um TVDE para o transportar até junto da Foz do Sousa.
Quando motorista chegou, o arguido, visivelmente alterado, contou-lhe o que acontecera e ofereceu-lhe dinheiro para o ajudar a livrar-se do corpo nas águas do rio Douro. O motorista, invés de o levar ao local pretendido, transportou-o para a esquadra da PSP da Corujeira, em Campanhã, e denunciou o sucedido.
O homem foi detido e confessou o crime. As autoridades foram até ao alojamento local onde encontraram a vítima sem vida. Austine ficou em prisão preventiva.