O coletivo Vida Justa volta a mobilizar-se em Lisboa, mas haverá contramanifestação do Chega, após a morte de Odair Moniz e de tumultos na rua. A ação convocada por André Ventura ia terminar no mesmo local, por isso o movimento que tinha inicialmente marcado o protesto alterou o destino.
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É uma espécie de jogo do gato e do rato no rescaldo dos tumultos que, nos últimos dias, têm assolado locais circunscritos da Área Metropolitana de Lisboa: depois de o Chega ter convocado uma contramanifestação “em defesa da Polícia” que, tal como a marcha “contra a violência policial nos bairros”, terminaria hoje na Assembleia da República, em Lisboa, o movimento Vida Justa, que une a periferia da capital, decidiu alterar o destino do desfile por si promovido para garantir que não degenerará em confrontos.
As manifestações estão agendadas para as 15 horas e, enquanto a do Chega parte da Praça do Município em direção ao Parlamento, a dos bairros da periferia de Lisboa sai, sob o mote “Sem justiça não há paz”, do Marquês de Pombal para os Restauradores.
A PSP reconhece que os protestos têm “posicionamentos ideológicos antagónicos”, mas sustenta que, face à alteração de um dos percursos, “estão reunidas as condições de segurança necessárias para a realização dos eventos”, embora subsista “algum risco para a ordem e segurança públicas”, atendendo à coincidência horária dos desfiles.
Versões distintas
O comunicado da PSP surgiu cerca de cinco horas depois de, numa nota, o Vida Justa ter condenado o facto de aquela força de segurança ter permitido ao Chega finalizar a sua marcha no Parlamento, apesar de esta ter sido marcada em segundo lugar.
“Estamos cientes de que o Chega, que defende que Portugal estaria melhor se os polícias matassem mais pessoas, está interessado em criar incidentes, mas a manifestação dos bairros é pacífica e responsável, mesmo quando as autoridades não o estejam a ser”, frisou o movimento, que pretende homenagear Odair Moniz, morto a tiro por um polícia, há cinco dias, na Cova da Moura, na Amadora.
A força de segurança contrapõe que, após ter sido informada pela Câmara Municipal de Lisboa da contramanifestação, se encontrava ainda a “elaborar a habitual análise de risco para a ordem e segurança públicas” associada à simultaneidade dos desfiles, tendo sabido pela comunicação social da mudança de percurso decidida pelo Vida Justa, “por sua livre iniciativa e sem esperar pelo parecer”.
“A PSP, como sempre fez, empenha-se em conciliar as duas manifestações, harmonizando as intenções e desígnios de ambos os promotores, adaptando o seu dispositivo para dar resposta ao exercício do direito de manifestação por parte dos cidadãos que queiram integrar as ações de manifestação, assegurando que quem comunicou primeiro exerce, se não houver constrangimentos de maior, a primazia da escolha do local e do itinerário”, sustenta.
polícia atenta
No total, já aderiram à manifestação “Sem justiça não há paz” mais de 80 organizações e coletivos, incluindo do Norte do país. É por isso expectável que, hoje à tarde, a moldura humana que vai descer a Avenida da Liberdade entre o Marquês de Pombal e os Restauradores seja considerável. Há um ano, uma manifestação promovida pelo Vida Justa por melhores condições de vida das populações juntou milhares de pessoas.
Já a dimensão do desfile convocado pelo partido liderado por André Ventura é uma incógnita. No último protesto promovido pelo partido, contra a imigração, compareceram cerca de mil pessoas, incluindo de movimentos de extrema-direita ligados a atos violentos.
Esta tarde, a PSP promete estar presente em força no centro de Lisboa. “A Polícia irá promover constante visibilidade e mobilidade dos meios policiais destacados para esta operação de segurança, de forma a prevenir e evitar a existência de situações de alteração da ordem pública”, assegura.