Fernando Rodrigues, um dos dois agentes da PSP acusados de terem ignorado, em 2020, as alegadas agressões num carro-patrulha de um colega a uma cidadã luso-angolana, na Amadora, afirmou esta quarta-feira, no julgamento, que a detenção de Cláudia Simões, parcialmente filmada, “foi exatamente como outra qualquer”.
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Fernando Rodrigues, de 31 anos, e João Gouveia, de 29, respondem por abuso de poder e, esta quarta-feira, corroboraram a garantia dada na sessão anterior por Carlos Canha, de 48, de que, dentro do veículo, não tocou em Cláudia Simões, de 46, a não ser para colocar o cinto de segurança.
Confrontados com fotografias do rosto da luso-angolana após a ocorrência, nas quais são visíveis lesões no lábio, no nariz, num olho e na testa, os três arguidos expressaram, porém, recordações distintas do caso.
Segundo Carlos Canha, concluída a detenção, Cláudia Simões tinha apenas um “inchaço no lábio”. O agente da PSP – acusado, entre outros crimes, de ofensa à integridade física e sequestro – admitiu, ainda assim, que as “quedas” durante a detenção e a “algemagem” possam ter causado os restantes ferimentos registados. “No dia em que aconteceram os factos, o corpo não ficou assim”, defendeu.
Fernando Rodrigues, chamado com João Gouveia a apoiar o colega na intervenção originada por uma suposta ameaça ao motorista de um autocarro, contou que não olhou para a mulher até esta ter entrado na ambulância, já depois de ter sido transportada à esquadra. O terceiro viu, por sua vez e num momento “posterior” à detenção, “escoriações no lábio e, na zona do nariz, alguns arranhões”.
"Peso morto"
No primeiro dia do julgamento, Cláudia Simões assegurara ter sido agredida e ofendida dentro do carro-patrulha e pontapeada na cabeça no exterior da esquadra. Esta quarta-feira, João Gouveia, que reconheceu tê-la tirado do automóvel, negou, precisando que a luso-angolana “se fez ou ficou peso morto” e caiu à saída do veículo.
O julgamento prossegue na próxima quarta-feira, 22 de novembro de 2023, no Tribunal Criminal de Sintra, com a audição das primeiras testemunhas, incluindo os bombeiros transportaram a vítima ao hospital.
Além de ofendida, Cláudia Simões é também arguida por ter mordido Carlos Canha aquando da detenção. “Se não mordesse o braço dele, eu morria”, justificou em tribunal, a 8 de novembro de 2023.