Albino Meireles já estava suspenso por o seu nome aparecer na lista de denunciados à Comissão Independente. Paroquianos apelam ao arcebispo.
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Uma delegação da junta fabriqueira da Unidade Pastoral de Serzedo e Calvos, em Guimarães, deslocou-se ao final da tarde de ontem a Braga, para interceder junto do arcebispo, José Cordeiro, em favor do padre Albino Meireles, que está suspenso depois de o seu nome surgir incluído na lista de suspeitos que a Comissão Independente de investigação aos abusos sexuais na Igreja entregou à arquidiocese. Para agravar a situação, o padre, de 44 anos, foi detido há dias pela Polícia Judiciária de Braga por crime de posse de arma proibida.
A detenção aconteceu na sexta-feira, na sua residência paroquial, em Serzedo, onde ainda estava alojado, apesar de estar suspenso de funções e, de acordo com a arquidiocese, "em retiro espiritual". Albino Meireles foi constituído arguido e devolvido à liberdade, no mesmo dia. O JN sabe que, ainda na noite de sexta-feira, o pároco devolveu a chave da casa paroquial e ter-se-á retirado para o domicílio dos pais, na zona do Porto.
Sempre ativo
Apesar de estar suspenso do exercício de atividades religiosas desde o dia 9 de março, Albino Meireles mantinha-se muito interventivo junto dos fiéis das paróquias de Serzedo e Calvos. Diariamente colocava mensagens no Facebook e recebia solidariedade de vários paroquianos. Há até mensagens em que continuava a dar orientações sobre atividades paroquiais.
Alguns dos paroquianos que não concordam com o afastamento do padre Albino Meireles tentaram mesmo, no fim de semana (ver texto ao lado), impedir o bispo auxiliar da arquidiocese de Braga de celebrar missa, em sinal de protesto.
Ontem, ao final da tarde, um grupo da junta fabriqueira, composto por duas mulheres e quatro homens, dirigiu-se à sede da arquidiocese numa carrinha da Junta de Freguesia, para se encontrarem com o arcebispo.
Questionados pelo JN sobre a finalidade da audiência com D. José Cordeiro, os membros da delegação não quiseram prestar declarações. O presidente da União das Freguesias de Serzedo e Calvos, Filipe Lopes, confirmou o empréstimo da carrinha da Junta ao grupo de paroquianos. Todavia, o autarca afirma desconhecer as razões que motivam estes cidadãos. A arquidiocese também nada disse.
Oito suspeitos
A arquidiocese recebeu uma lista com oito nomes da Comissão Independente que investigou os abusos sexuais na Igreja, tendo esta informado, em comunicado, que um padre suspeito de abusos sexuais foi suspenso, três "correspondem a sacerdotes já falecidos", um dos nomes não corresponde a nenhum padre que conste dos arquivos da arquidiocese.
É ainda referido que um dos nomes "corresponde a um sacerdote que foi alvo de um processo canónico por abuso sexual de menores já concluído e que resultou na aplicação de medidas disciplinares em vigor."
Carta anónima
Uma carta anónima, supostamente escrita por "amigos e inimigos ex-paroquianos de Chorense e Cibões, Gondoriz, Brufe e Carvalheira", em Terras de Bouro, circulou pelas paróquias de Calvos e Serzedo, cerca de ano depois de Albino Meireles ser transferido para as paróquias vimaranenses.
Autarca nada fez
No documento, o padre Albino Meireles era acusado de má gestão, desvio de dinheiro e comportamentos impróprios com um menor. A carta chegou ao presidente da União de Freguesias de Calvos e Serzedo, Filipe Lopes, que reconhece que a recebeu "por vias não oficiais e por isso não tomou qualquer atitude."