O ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, foi este sábado abordado por um jovem que se identificou como sendo filho de um polícia e o acusou de ignorar os protestos das forças de segurança, no final da apresentação do seu livro "Ganhar o Futuro", no Porto.
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"Eu tenho um pai que é membro de OPC [órgão de polícia criminal] e que não recebe o salário que é digno. Trabalha agora num posto e está a dormir à frente [do posto] com um colchão, na chuva. E o senhor ministro nem sequer fala sobre o assunto", começou por dizer o rapaz, indignado, enquanto José Luís Carneiro assinava um exemplar do seu novo livro.
"O senhor prefere falar sobre o futuro, mas fale também sobre o presente. Fale também sobre o presente, porque devia envergonhá-lo. Durante estes últimos anos, não fez absolutamente nada para valorizar a carreira de um polícia e de um guarda", acusou o jovem, que, questionado pelo ministro da Administração Interna, se identificou como Tomás.
"Você devia ter vergonha de dizer e de vir aqui falar sobre o futuro. O senhor nem sabe se estará no futuro deste país. E está aqui a falar do futuro. Fale também do presente. Porquê que não fala do presente?", continuou, enquanto José Luís Carneiro abraçava o presidente da Câmara de Paredes, Alexandre Almeida.
"Isto é revoltante, sabe? Eu não tenho nada contra si, mas tenho... Enoja-me mesmo o senhor nunca ter referido as forças de segurança e o protesto das forças de segurança durante o seu discurso", finalizou o jovem, já depois de o ministro ter mostrado disponibilidade para o ouvir no final da sessão de autógrafos.
No dia 12 de janeiro, José Luís Carneiro disse que o Governo em gestão não tinha condições para dar respostas às reivindicações dos polícias, remetendo uma solução para um futuro Executivo. Algo que, de resto, também voltou a frisar hoje.
"Este é um trabalho que deve ser feito e concluído na próxima legislatura e por parte do próximo Governo e que, do meu ponto de vista, deve ter duas dimensões estruturais: comparar as funções e a natureza das forças e serviços de segurança, bem como dos órgãos de polícia criminal, no que tem que ver com a estrutura de remuneração de base e, depois, também estabelecer uma comparação entre os diferentes suplementos das forças e serviços de segurança e dos órgãos de polícia criminal", disse.
Ouvido este sábado pelo JN, o constitucionalista Jorge Reis Novais considerou que, do ponto de vista jurídico, o Governo de gestão tem margem para atribuir um suplemento de missão similar ao que passou, recentemente, a ser auferido pelos trabalhadores da Polícia Judiciária. Basta, para tal, que o Executivo encare o ato como algo “estritamente necessário para a gestão dos negócios públicos”.
Elementos da PSP, da GNR e da Guarda Prisional estão há cerca de duas semanas em luta por melhores condições de trabalho e salariais. O protesto começou após um único agente da PSP ter decidido, a 7 de janeiro, iniciar uma vigília em frente ao Parlamento.