Colaborador, entretanto promovido a diretor de conteúdos do F. C. Porto, indicava mensagens a divulgar no Porto Canal.
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Cinco anos e três meses após a primeira divulgação de emails do Benfica, no programa "Universo Porto - da Bancada", no Porto Canal, Francisco J. Marques, diretor de comunicação do F. C. Porto, Diogo Faria, atual diretor de conteúdos, e Júlio Magalhães, então diretor do canal, começam a ser julgados na próxima sexta-feira, em Lisboa, por crimes de violação de correspondência, acesso indevido e ofensa a pessoa coletiva. Na instrução, concluída pelo juiz Carlos Alexandre, Diogo Faria assume ter sido ele a selecionar os emails.
A época futebolística de 2016/2017 estava a terminar com o Benfica prestes a selar o quarto campeonato consecutivo, quando, a 4 de abril, Francisco J. Marques recebeu um email anónimo com o título "briefings para os comentadores lampiões". A mensagem continha o primeiro de centenas de documentos que levaram mais tarde o diretor de comunicação a denunciar um alegado "polvo encarnado". A fonte, apenas identificada pelo endereço encriptado "elements123@tutanota.com", nunca foi descoberta pela investigação.
O anónimo acabou por enviar a Marques milhares de mensagens entre elementos do Benfica e, após ter verificado a veracidade da informação, com a ajuda de Diogo Faria, divulgou-a.
Sabe-se agora que era o então jovem colaborador, promovido a diretor de conteúdos no ano passado pelo F. C. Porto, quem indicava os mails a divulgar. "O arguido Diogo Ferreira quis ainda declarar nos autos que todos os mails a que a acusação se refere foram selecionados por si e indicou-os a F.J. Marques", diz juiz. Foram produzidos 20 programas.
Informação truncada
O Benfica e vários envolvidos queixaram-se e os três arguidos foram acusados. Segundo o Departamento Central de Investigação e Ação Penal, a 6 de junho de 2017, Francisco J. Marques leu, de forma seletiva, passagens de emails entre Adão Mendes (ex-árbitro da Associação de Futebol de Braga) e Pedro Guerra (comentador e colaborador do Benfica), "omitindo" trechos e "lendo e-mails de dias diferentes de forma intercalada, como se de uma sequência fidedigna se tratasse".
Explica o MP que Marques deixou clara a ilação de que o Benfica tinha um esquema de corrupção sobre árbitros de futebol, que mandava na arbitragem, imputando ainda ter sido merecedor do "campeonato do colinho". O MP diz que "da versão original e linha temporária originais dos e-mails, não resultava que a estratégia do Benfica seria a da corrupção", explicando ainda que os espectadores ficaram convencidos de que o texto original representava um esquema de corrupção. Carlos Alexandre pronunciou os arguidos nos mesmos termos da acusação do MP e da particular do Benfica.
Interesse público
Marques alegou o interesse público da informação, mas o magistrado entendeu não haver interesse público "que prevaleça perante a atitude dos aqui arguidos de acederem, analisarem e divulgarem correspondência alheia em vários programas televisivos, sincopada e reiteradamente, abstraindo-se da existência até de investigações das autoridades policiais".