A avó e a mãe de Alexandre Gonçalves, arguido de 23 anos que responde pelo homicídio da irmã Lara Gonçalves, na Moita, defenderam, esta sexta-feira, no Tribunal de Almada, a inocência do arguido.
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Maria de Lurdes, a avó do arguido, disse que "quase" era capaz de "pôr as mãos no fogo em como ele não matou a irmã". Mas Elisabete Santos, a mãe do arguido, disse mesmo "ter a certeza que ele não fez aquilo". "E coração de mãe não se engana", acrescentou, apesar de, dias depois do crime, ter perguntado ao filho se tinha matado a irmã.
Lara Gonçalves, de 17 anos, morreu em casa, a 2 de outubro de 2023, quando estava com o irmão. O MP acusa o arguido de matar a irmã por esta ter comportamentos que iam contra a sua fé cristã, nomeadamente relações sexuais com homens casados e consumo de droga.
O cadáver foi deixado em "posição de Cristo", conforme dito em tribunal pelo militar da GNR que acorreu ao local do crime. Depois de cometer o crime, Alexandre Gonçalves foi trabalhar. A avó é que encontrou o corpo, alertando as autoridades.
Em tribunal, Alexandre Gonçalves atirou as culpas para traficantes de droga, que não soube identificar ou apenas caracterizar, mas aos quais a irmã deveria dinheiro, segundo o arguido. Este disse que os acompanhou a casa e que estava lá quando a mataram. Afirmou ainda que nunca os denunciou por ter medo.
"Era muito estranho o seu comportamento"
A mãe de Alexandre Gonçalves, à entrada da sala de audiência, lançou um beijo ao filho, com um "amo-te" na sua direção. No seu testemunho, defendeu o carácter pacífico do filho e lançou críticas à investigação. "Existia mais ADN no local do crime, mas apenas o meu filho está a ser julgado", disse. A testemunha foi interpelada por uma juíza do coletivo que fez notar que o filho dela "não soube dar quaisquer características de quem disse que cometeu o crime".
A mãe de Alexandre Gonçalves garantiu em tribunal que o filho não era violento, que era bastante bem comportado e que, apesar de não ter uma relação próxima com a irmã, nunca lhe quis mal. Ainda assim, chegou a questionar o jovem sobre se tinha sido ele o autor do homicídio. "Eu estava desgostosa, não parava de chorar e ele nunca mostrava qualquer emoção. No dia em que a irmã apareceu morta, estávamos todos muito nervosos à porta de casa com a PJ e ele estava a rir de anedotas com um vizinho uns metros à frente", contou Elisabete Santos. "Repreendi-o nesse momento, mas ele ri-se quando está nervoso, sempre foi assim desde criança, devido à condição de autismo que tem. Era muito estranho o seu comportamento e, uns dias depois do velório, perguntei-lhe se foi ele que matou a Lara e ele disse-me, 'oh mãe, o que estás a dizer? Eu nunca faria uma coisa dessas'".
Certidão por falsas declarações
O Ministério Público confrontou em tribunal a testemunha com o que tinha declarado na fase de inquérito: que o arguido já tinha assumido que queria matar a irmã e que o faria estrangulando-a enquanto dormisse. Agora, a mãe disse que o filho proferira tais coisas mas quando tinha apenas oito anos. "Consultámos psicólogos nessa altura, disseram-nos que era a forma que ele tinha de dizer que não batia na irmã quando ela o acusava, eram crianças", disse. Perante estas declarações, o MP pediu procedimento criminal contra a testemunha por falsas declarações.
Alexandre Gonçalves foi detido meses depois do crime, mas nunca contou a familiares a versão de que foram terceiros que o fizeram e que ele próprio estava no local do crime. Foi uma chamada telefónica entre o arguido com a avó que levou a PJ a desconfiar e, mais tarde, a deter o arguido. A avó disse que este tinha que ter cuidado com o que dizia aos inspetores e que não os podia evitar.
"Ela era o dia e ele era a noite"
Em tribunal, a avó, Maria Lurdes, disse não se lembrar de falar com o jovem sobre a PJ. Referiu a relação fria entre irmãos, mas admitiu que o arguido se preocupava com a irmã. "Ela era o dia e ele era a noite, ela chegou a causar muita preocupação à família por causa das drogas e álcool, mas ele nunca estava incomodado com isso", disse a testemunha.
Quando Alexandre foi detido, a avó falou com ele. "Perguntei-lhe se foi ele que fez aquilo e ele disse para não se preocupar porque não fez nada. Não é para defendê-lo, mas ele é um rapaz muito sossegado, não era capaz de fazer aquilo".