Em seis meses, foram assassinadas 16 mulheres pelos companheiros. Em 2021, foram sete
No primeiro semestre, foram registadas ainda 21 tentativas de homicídio em contexto de relações de intimidade. Dados foram apresentados pela UMAR, entidade que exige que o Estado comece a financiar projetos de prevenção da violência doméstica
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Nos primeiros seis meses deste ano, 16 mulheres foram assassinadas em contexto de violência doméstica. E 21 foram alvo de uma tentativa de homicídio no âmbito de relações de intimidade. Estes números representam um crescimento acentuado relativamente ao primeiro semestre do ano passado, período em que sete mulheres morreram às mãos de maridos, companheiros ou namorados.
"Continua a existir uma sociedade sexista e patriarcal que coloca as mulheres em maior risco. Elas morreram por serem mulheres", garante a presidente da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), Liliana Rodrigues. Para esta ativista, "se as mulheres morrem é porque alguma estrutura falhou", até porque, salienta, em quase todos os casos assinalados "houve um contexto prévio de violência doméstica".
Os dados preliminares sobre mulheres assassinadas em Portugal foram anunciados, nesta quinta-feira, pelo Observatório de Mulheres Assassinadas, organismo dinamizado pela UMAR e que tem nas notícias dos jornais portugueses a sua principal fonte. E embora o crescimento de homicídios de mulheres em contexto de violência doméstica seja evidente, Liliana Rodrigues alerta para a necessidade de "analisar os dados com cuidado". "É preciso ligar os pontos e perceber o contexto em que os crimes aconteceram", avisa. Um facto é, no entanto, já certo: "é preciso proteger as vítimas".
Crimes em Portugal em linha com o resto da Europa
Cátia Pontedeira, dirigente que representa a UMAR no projeto internacional FEM-UnitED - Unid@s para prevenir o femicídio na Europa, que conta com a participação de oito entidades de cinco países, revela que o número de assassinatos de mulheres em Portugal não está desfasado dos padrões europeus. "Não se registam muitas diferenças, mas há países com políticas públicas de prevenção mais avançadas e que, por esse motivo, têm melhores resultados. O Chipre e Malta, por exemplo, já estão a preparar legislação para criminalizar, de forma autónoma, o femicídio", explica.
A investigadora defende, assim, que "o femicídio pode ser prevenido" e que "o importante é implementar políticas de continuidade".
Mas para que isso aconteça, alerta Liliana Rodrigues, é preciso que os projetos e campanhas de prevenção sejam financiados e igualmente de forma contínua. "O Observatório de Mulheres Assassinadas funciona há 18 anos sem qualquer apoio. Os técnicos que o integram, que são investigadores, professores universitários ou profissionais ligados ao Direito, são todos voluntários. É fundamental o Estado financiar projetos como o Observatório, porque só assim se pode agregar equipas e planear estratégias de combate ao femícídio", refere a presidente da UMAR.