Chenglong Li, o empresário chinês de 25 anos acusado de ter dado ordem para incendiar um prédio no centro da cidade do Porto, que provocou a morte de um inquilino, negou, na quarta-feira, durante a primeira sessão do julgamento, a autoria do crime
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"O empresário está a assumir factos evidentes, como a compra do prédio e o negócio imobiliário que se seguiu, mas começou por negar que tenha ordenado o incêndio", referiu a advogada Luísa Macanjo, à porta do Tribunal São João Novo, onde os jornalistas foram proibidos de entrar (ver texto ao lado). A defensora da família de António Gonçalves, que morreu na sequência do fogo, acredita, mesmo assim, que "a ganância é o móbil do crime" que levou cinco pessoas a sentarem-se no banco dos arguidos. Para além de Chenglong Li, também a sua mulher Wen Ni e os portugueses Alberto Abreu, Nuno Marques e Hugo Tavares estão acusados dos crimes de homicídio, cinco tentativas de homicídio, extorsão, incêndio e branqueamento de capitais.
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A história remonta a dezembro de 2016, quando Chenglong Li comprou o número 100 da Rua Alexandre Braga por 645 mil euros. Justificou ontem que o dinheiro lhe tinha sido disponibilizado pelos pais. A ideia sempre foi revender o prédio logo que possível e com a maior margem de lucro. E tudo estava bem encaminhado quando, em novembro de 2018, Chenglong Li celebrou um contrato-promessa para vender o edifício por 1,2 milhões de euros. O jovem empresário chegou a receber um sinal de 160 mil euros para concluir o negócio até ao final de maio do ano passado.
Família recusou saída
O único obstáculo à assinatura da escritura era a família de Maria Mendes Oliveira que, há cerca de 50 anos, ocupava um dos três pisos do prédio da Rua Alexandre Braga, pagando uma renda de 53,28 euros. Apesar das ofertas feitas por Chenglong Li - uma das quais de 40 mil euros - a inquilina, de 80 anos, e os filhos recusaram sair.
Condicionado pela lei do arrendamento, que impede o despejo de um inquilino sem o seu consentimento, o empresário, alega o Ministério Público, decidiu ameaçar a família Oliveira, que, porém, se manteve intransigente na vontade de permanecer na sua casa de sempre. Em fevereiro de 2019, Chenglong Li pagou, lê-se na acusação, a um segurança e a um pugilista para atear um fogo que destruísse o edifício e obrigasse a família a mudar-se para outro local. A tentativa fracassou, mas, um mês depois, um segundo incêndio matou António Gonçalves.
O empresário chinês e os comparsas seriam detidos em junho seguinte, após uma investigação da Polícia Judiciária ter reunido prova de reuniões mantidas entre Chenglong Li, o segurança e o pugilista para preparar o incêndio.
Protesto
Jornalistas ficaram à porta do tribunal
O julgamento iniciou-se no Tribunal de São João Novo, no Porto, mas não contou com a presença dos jornalistas. Os profissionais da Comunicação Social foram impedidos de passar a portaria do Palácio da Justiça devido às regras impostas para combater a pandemia da covid-19. Os responsáveis judiciais alegaram que a sala de audiências não tinha espaço suficiente para acolher os jornalistas que, impedidos de realizar o seu trabalho, formalizaram uma queixa junto do Conselho Superior de Magistratura e do Tribunal Judicial da Comarca do Porto. A segunda sessão do julgamento já será realizada no Auditório Municipal de Vila Nova de Gaia, local com mais lugares disponíveis.