Depois de ter negado qualquer ligação ao incêndio num prédio da Baixa portuense que provocou a morte de um inquilino, o empresário chinês Chenglong Li também desmentiu que os dois mil euros que deu a Nuno Marques fossem o pagamento pelo atear das chamas ao edifício que queria ver desocupado.
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"Ele pediu-me três mil euros emprestados, mas eu, naquela altura, só tinha dois mil para lhe dar. O Nuno devolveu-me o dinheiro quando eu já estava preso. Primeiro, tentou transferir a quantia para a minha conta, mas como esta estava bloqueada, entregou duas prestações de mil euros ao meu advogado que, em seguida, deu o dinheiro à minha mulher", contou Chenglong Li ontem, durante a segunda sessão do julgamento em que está acusado de ter mandado atear um fogo para obrigar uma família a abandonar o edifício que tinha comprado para revender, no âmbito de um negócio que lhe renderia cerca de meio milhão de euros. A entrega do dinheiro do empresário chinês ao funcionário de uma discoteca portuense foi descoberta pela Polícia Judiciária numa escuta telefónica e, de imediato, entendida como o pagamento pelo crime encomendado.
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Um crime que, ao longo de cinco horas, Chenglong Li sempre negou. Aliás, assegurou que só teve conhecimento do fogo que destruiu o número 100 da Rua de Alexandre Braga no dia seguinte à tragédia que tirou a vida a António Gonçalves, de 55 anos. "Foi o meu agente imobiliário que me ligou a dizer o que tinha acontecido. Desloquei-me para o local e perguntei a um responsável da Proteção Civil onde estava a família. Responderam-me que não podiam dar essa informação", recordou o empresário de 25 anos.
Disponibilizou ajuda
Dias mais tarde, quando obteve autorização para visitar o edifício destruído pelas chamas, Chenglong Li voltou a perguntar pelos inquilinos que recusavam abandonar o apartamento, apesar das ofertas do empresário chinês. Mais uma vez ficou sem resposta e só voltaria a ter notícias dos inquilinos por carta. "Respondi dizendo que lamentava o que tinha acontecido e a disponibilizar-me para ajudar no que fosse preciso", declarou.
O fogo que destruiu o prédio e matou António Gonçalves deflagrou em março do ano passado. Foi o segundo incêndio no espaço de um mês no mesmo local e é encarado pelo Ministério Público como uma forma de forçar a família Gonçalves a abandonar a casa que arrendou há cerca de 50 anos.
Negociou compra de McLaren e casa de Ricardo Costa
Chenglong Li negociou com o futebolista Ricardo Costa, que na época passada jogou no Boavista, a compra do seu carro, um McLaren, e da habitação. "Jantámos na sua casa, mas o preço era demasiado elevado", lembrou. A concretizar-se, este seria mais um negócio do empresário em Portugal, onde comprou quatro lojas em Leiria, uma moradia em Gaia e um apartamento em Lisboa. Portador de visto gold, Chenglong Li pretendia, mesmo estando em prisão preventiva, adquirir em Braga dois supermercados do universo Sonae. Porém, o investimento caiu por terra, porque o dinheiro do empresário chinês em Portugal está arrestado à ordem do processo do incêndio criminoso.