Empresário revoltado com demora da justiça após furto de cofre com 100 mil euros
Portuense de 78 anos assaltado em agosto só foi ouvido no Ministério Público em dezembro. Cofre com 600 quilos tinha poupanças e joias de família.
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Numa madrugada de agosto, Herculano Rodrigues ficou sem as poupanças de uma vida e as memórias de um casamento de 55 anos. Furtaram-lhe um cofre de 600 quilos com 54 mil euros em dinheiro e outro tanto em ouro. Três meses depois, o processo ainda não tinha saído do Departamento de Ação e Investigação Penal (DIAP) do Porto. O empresário só seria chamado a depor a 12 de dezembro. Herculano não percebe a demora e teme que os ladrões já estejam longe. A Procuradoria Geral da República confirmou JN que o processo está no DIAP e avança que foram solicitadas diligências à PSP e à Polícia Judiciária (PJ).
O crime ocorreu a 16 de agosto, por volta das duas horas da manhã. A vizinha ouviu barulho e apercebeu-se de muita luz na rua. Viu um carro estacionado em sentido contrário. Nessa manhã, Herculano Rodrigues, 78 anos, abriu a porta do escritório na rua Bento Carqueja, no Porto. Inseriu o código no alarme, mas em vez de o desligar, ligou-o. Pensou que a filha se tinha esquecido de o ativar. Foi só quando entrou que se apercebeu de que tinha sido roubado.
O espaço onde estava o enorme cofre encontrava-se vazio. "Afastaram as coisas e levaram-no porta fora. Não estragaram nada. Só rasparam um pouco num caixilho", conta Herculano. Do cofre comprado há 40 anos nem sinal. Dentro estavam 54 mil euros em dinheiro e mais de um quilo de ouro em joias.
"As notas estavam em envelopes para os meus netos e para a minha mulher e um para o meu funeral. Tinha tudo organizado para quando morresse", explica. As joias da esposa estavam num esconderijo no sótão de casa, mas trouxera-as para o cofre porque o acesso era mais fácil e para não sujar a casa cada vez que ia ao sótão buscar algo. "Eram todas as joias que dei à minha mulher. Tinha uma cruz de ouro lindíssima que comprei em Itália. Foi a prenda dos nossos 50 anos de casados", recorda, com tristeza.
A PSP esteve no local a recolher vestígios. A filha fez um inventário das dezenas de peças furtadas, com fotos e desenhos. Herculano entregou tudo na Divisão de Investigação Criminal e ficou à espera que o chamassem. Passaram-se três meses. Estava farto de esperar e foi à PSP. O processo não estava lá. Foi à PJ. Também não lá estava. Disseram-lhe que ainda estaria no DIAP, no centro do Porto, e também lá foi.
Entrou e pediu para falar com a responsável pelo seu processo. "Apareceu uma senhora, muito altiva, a dizer que ainda não tinha tido tempo, nem oportunidade para o ler. Exaltei-me", confessa. Herculano levantou a voz, perguntou-lhe se não tinha cinco minutos para o ler e protestou ativamente até ser convidado a sair.
"Estive 36 meses a defender o meu país e ajudei a fazer o 25 de abril. Trabalhei uma vida toda. Nunca fiz férias. Agora que preciso do meu país, não tenho ninguém que me ajude?", critica. Entretanto, prestou depoimento a 12 de dezembro.
Herculano teme que seja tarde demais, até porque constou-lhe que um dos possíveis suspeitos estará prestes a sair do país. "Esta inação revolta-me. Não compreendo", critica.