Porto dispõe de equipas multidisciplinares para atuar 24 horas por dia. Investigadores contam com apoio de técnicos forenses para recolher prova, proteger vítimas e deter agressores.
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O alerta para o que seria um simples caso de suicídio revelou-se uma situação de violência doméstica de contornos dramáticos com consequências fatais. Uma equipa multidisciplinar da PSP, que incluiu elementos da Divisão de Investigação Criminal (DIC), especialistas no apoio à vítima, técnicos forenses e agentes de patrulha, rapidamente deslindou o enigma e protegeu a sobrevivente. O JN acompanhou, em exclusivo, a investigação ao caso do cuidador que tentou matar a mãe na Maia e se suicidou.
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O recurso a tecnologia de ponta, no valor de milhares de euros, também permitiu recolher prova material para fundamentar a decisão do Ministério Público no inquérito. Esta atuação coordenada, sistematizada e imediata é replicada em quase todas as situações de violência doméstica que acontecem do Grande Porto, permitindo salvar vidas e condenar agressores.
Disponibilidade e rapidez
Faltavam poucos minutos para as 19 horas do dia 18 do mês passado, quando a PSP do Porto recebeu um alerta para a descoberta de um cadáver no pátio de uma moradia, no centro da cidade da Maia. Rapidamente, uma patrulha foi enviada e, à chegada, a informação transmitida aos dois agentes apontava para a ocorrência de um suicídio.
As primeiras diligências dos polícias revelaram, contudo, outro cenário. Dramático, com mais vítimas e a envolver violência doméstica. Perante este quadro, o protocolo foi acionado e da sede da DIC, localizada nas modernas instalações da Rua Cantor Zeca Afonso, partiram, de imediato, os dois investigadores especializados em violência doméstica que estavam de piquete. Atrás destes seguiram dois peritos da Unidade de Polícia Técnica Forense e o comissário João Soeima, naquela noite a exercer funções de oficial de dia e, como tal, responsável pelas atividades policiais nas horas seguintes.
Quando todos se encontraram na habitação maiata, depressa as suspeitas seriam confirmadas. Além do homem morto, havia, num apartamento do prédio anexo, uma idosa ferida em consequência de uma tentativa de homicídio, com uma facada no pescoço e estrangulamento. Já com a mulher, de 96 anos, a caminho do hospital, foi acionado o Gabinete de Apoio e Informação à Vítima (GAIV), cujos elementos recolheram o testemunho da idosa logo que ela foi estabilizada pela equipa médica.
Testemunhos essenciais
O depoimento da vítima indiciava que um homem, de 59 anos, tentou matar a mãe e que, acreditando que esta já não respirava, se suicidou. A investigação no cenário do crime consolidou a tese. "Os dois polícias da DIC recolheram depoimentos dos vizinhos, da família dos intervenientes e dos primeiros agentes a chegar ao local, que contactaram com a vítima, uma testemunha imparcial do que aconteceu. Já os dois elementos da Unidade de Polícia Técnica Forense fizeram a gestão do cenário do crime e recolheram a prova material existente", descreveu, ao JN, o comissário João Soeima.
Cruzada toda a informação, a PSP concluiu que o filho tentou, de facto, matar a nonagenária durante aquela tarde, subiu ao terraço do prédio de cinco andares e saltou, caindo no pátio da casa ao lado. Não resistiu aos ferimentos.
O crime foi cometido, apurou ainda a PSP, num quadro de esgotamento psicológico do suicida, alimentado por anos de cuidados prestados à progenitora sem qualquer apoio institucional.
Em menos de três horas, a PSP apurou as circunstâncias de mais um caso de violência doméstica e parte da equipa multidisciplinar tinha o seu trabalho praticamente concluída. A restante, nomeadamente os elementos do GAIV, continuava no hospital para garantir que a idosa teria todo o apoio, sobretudo social, nos dias em que ficaria internada e, essencialmente, no período posterior à alta médica.
Estatísticas
832 vítimas foram atendidas e acompanhadas pelos polícias do GAIV do Porto entre janeiro e setembro deste ano. 69 foram avaliadas como de risco elevado.
186 queixas recebidas este ano pelo GAIV foram apresentadas no dia da agressão. 123 chegaram às autoridades no dia seguinte ao ato criminoso.
0 mortes registadas entre as mais de 9200 vítimas que, ao longo dos últimos oito anos, recorreram aos serviços do GAIV e foram acompanhadas pelos polícias.