O ex-diretor executivo do empreendimento Vale do Lobo negou esta quinta-feira qualquer relação de amizade com Armando Vara, mas escutas mostraram conversas entre os dois sobre jogos de ténis, jantares e falta de cadeiras na piscina.
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Na décima primeira sessão do julgamento do processo Operação Marquês, Diogo Gaspar Ferreira, um dos 21 arguidos deste processo e que está acusado de dois crimes - um de branqueamento de capitais e um de corrupção ativa de titular de cargo político -, recusou a tese do Ministério Público, que acredita que existia uma relação próxima com Armando Vara, administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD), na altura em que foi feito o financiamento de Vale do Lobo pela Caixa Geral de Depósitos.
A relação entre os dois era "completamente formal", sublinhou Diogo Gaspar Ferreira, acrescentando que terá falado com Armando Vara "uma ou duas vezes".
Questionado pelo procurador Rosário Teixeira sobre se existia uma relação de amizade, o ex-diretor executivo de Vale do Lobo negou: "Nunca foi jantar a minha casa".
Diogo Gaspar Ferreira detalhou ainda que terá estado com Armando Vara numa festa e num evento de ténis, promovido no empreendimento de Vale do Lobo.
"Toda a relação que tive com o doutor Armando Vara tinha a ver com Vale do Lobo e com a Caixa, nunca nada fora do estrito da relação profissional", acrescentou.
"Comes lá um camarão comigo"
Na sequência destas declarações, o Ministério Público pediu a reprodução de três escutas, com data de 2009, que mostraram chamadas entre Diogo Gaspar Ferreira e Armando Vara.
Num dos telefonemas, ouviu-se em tribunal Armando Vara a queixar-se a Diogo Gaspar Ferreira da falta de cadeiras na piscina do empreendimento de luxo de Vale do Lobo, explicando que as mesmas tinham toalhas e estavam todas ocupadas.
No final da chamada, Diogo Gaspar Ferreira convidou Armando Vara para jogar ténis e jantar. "Comes lá um camarão comigo", ouviu-se.
Para o Ministério Público, adiantou o procurador Rosário Teixeira, "o tom da conversa, em que se tratam de uma forma bastante pessoal, por tu, revela bastante amizade".
No entanto, Diogo Gaspar Ferreira disse que "só quem não conhece o doutor Armando Vara é que não sabe" que, à segunda conversa que mantém com alguém, o ex-administrador da Caixa Geral de Depósitos já trata a pessoa por tu.
"Confirmo tudo o que disse, quando falei com o doutor Armando Vara foi a propósito de Vale do Lobo", acrescentou Diogo Gaspar Ferreira.
Ex-CEO nega qualquer "influência política"
Ao longo do dia, Diogo Gaspar Ferreira falou sobre o processo de financiamento do projeto de Vale do Lobo pela Caixa Geral de Depósitos, tendo dito que a acusação do Ministério Público mostra um "completo desconhecimento sobre o processo negocial" e que "o que aconteceu foi uma situação completamente normal".
O ex-diretor executivo negou, ainda durante a manhã, qualquer "influência política" por parte de Armando Vara e negou que este tenha sugerido que falasse com o antigo primeiro-ministro José Sócrates.
Nesta sessão, a primeira em que o antigo primeiro-ministro José Sócrates esteve ausente, marcou presença o procurador Rosário Teixeira, que liderou a investigação que resultou neste processo que agora é julgado.
O ex-primeiro-ministro José Sócrates é um dos 21 arguidos da Operação Marquês e responde maioritariamente por corrupção e branqueamento de capitais. Não esteve presente hoje, depois de ter pedido dispensa ao tribunal esta quarta-feira e anunciado que vai deslocar-se ao Brasil por motivos académicos.
Os 21 arguidos têm, em geral, negado a prática dos 117 crimes económico-financeiros que globalmente lhes são imputados.
O julgamento começou a 3 de julho no Tribunal Central Criminal de Lisboa.