PSP fez buscas em Braga, Amares e Trofa e recuperou 200 dos 300 mil euros das peças em ouro que foram furtados em junho na Ourivesaria Jade, na Póvoa de Varzim.
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Cathiane Lima nunca teve dúvidas: quem lhe assaltou a ourivesaria tinha chave, sabia o código do alarme, conhecia "os cantos à casa" e fez um trabalho "cirúrgico". Levou tudo o que havia de maior valor. Contas feitas, 300 mil euros. Agora, grande parte das peças furtadas em junho na ourivesaria Jade, na Póvoa de Varzim, foi encontrada à venda numa ourivesaria na Trofa, gerida pelo seu ex-companheiro, de 49 anos, em casa deste e da namorada. Junto estava a chave do carro e o comando da garagem de Cathiane, guardadas no interior da gaveta da caixa registadora furtada. A brasileira, de 35 anos, garante que, desde a separação, há quase três anos, vive "num inferno" e só quer ver R. Lima punido.
"A única pessoa que podia fazer isto era ele. A ourivesaria estava intacta: não partiram nada, não derrubaram nada, não forçaram a fechadura, não havia bagunça, desativaram o alarme, nem parecia que tinha havido um assalto", conta a dona da Ourivesaria Jade, situada na Avenida de Mouzinho de Albuquerque, junto ao mercado municipal, em pleno centro da cidade, a 100 metros da esquadra da PSP.
Peças com etiqueta da Jade
O assalto foi durante a noite, de 6 para 7 de junho de 2022. Foi a única funcionária da loja quem, na manhã seguinte, deu o alerta. Cathiane chamou a PSP e contou as suspeitas à Polícia. Pediram-lhe sigilo e, desta forma, o assalto milionário nem sequer foi notícia. O caso passou para as mãos da Divisão de Investigação Criminal, com quem Cathiane colaborou nos últimos oito meses, para tentar encontrar as peças furtadas.
Depois de oito meses de investigação, no sábado, o ex-namorado de Cathiane e pai da filha de dois anos foi apanhado com a fortuna furtada e constituído arguido.
A PSP fez quatro buscas em Braga (na casa da atual namorada de R. Lima), em Amares (na casa e numa garagem pertença do empresário) e na Trofa (na ourivesaria que geria). Em todos os locais foram encontradas peças furtadas na Jade, muitas delas ainda com a etiqueta da loja poveira. Entre os objetos encontrados, explica ainda a proprietária da Ourivesaria Jade, estava a chave do seu carro e o comando da sua garagem, encontrados no interior da gaveta da caixa registadora, que também ela tinha sido roubada no assalto.
Para além de constituir arguido R. Lima, a PSP identificou ainda mais três pessoas.
Ao todo, diz a PSP, foram recuperados 200 dos 300 mil euros furtados em junho. A investigação vai agora tentar apurar qual o papel de R. Lima no assalto à ourivesaria para perceber se, como alega Cathiane, foi ele o autor do furto. O trabalho continua ainda de forma a localizar os restantes 100 mil euros de material roubado.
Pérolas, libras, relógios de luxo e filigrana
O assalto na noite de 6 para 7 de junho limpou, por completo, a Ourivesaria Jade. "Levaram tudo o que era de valor: brincos, anéis, pulseiras, medalhas, cruzes, artigos em filigrana e até peças de clientes que estavam cá para reparar ou limpar. O ouro foi todo. Depois, levaram relógios de luxo", conta Cathiane Lima, explicando que, por exemplo, só em brincos de criança foram "mais de 600 pares" e "cerca de 50 relógios da marca Seiko". O assalto levantou suspeitas desde o início: primeiro, porque nenhuma entrada foi forçada; depois, porque foram furtadas as peças, os expositores e até gavetas inteiras. "Normalmente, os ladrões só levam mesmo as peças e reduzem ao mínimo o volume do que levam", conta. Na Trofa, a PSP encontrou várias peças à venda numa ourivesaria ainda com a etiqueta da "Jade" e outras amontoadas em sacos de hipermercado.
Outros processos
Separação atribulada
Cathiane Lima e R. Lima separaram-se quando a mulher estava grávida de três meses. Desde então, os processos contra o ex-companheiro multiplicam-se. Cathiane acusa R. Lima de violência doméstica, furto do carro, da ourivesaria e até sequestro da pequena Victória, agora com dois anos. O homem diz que ela é "alcoólica" e "incapaz de cuidar da filha".
22 dias sem a filha
Em agosto, Cathiane esteve 22 dias sem ver a filha. R. Lima recusava entregar a criança, mesmo depois de ordem judicial. O caso foi notícia na TVI e a menina acabou entregue à mãe em direto naquele canal.
Pede afastamento
Desde o sequestro da Victória em agosto, R. Lima só pode ver a menor em visitas vigiadas. Agora, Cathiane vai pedir uma ordem de afastamento. Teme pela sua vida e, sobretudo, pela da menina.