Interferiu em diferendo familiar sobre propriedades para desviar oito mil euros que seriam entregues a advogada.
Corpo do artigo
Depois de anos a fazer-se passar por padre, para burlar crentes, e de ter estado preso por diversas vezes, Manuel Fernando Leite Martins voltou a atacar, agora usurpando outras funções - a de juiz desembargador - para continuar a ludibriar pessoas. Foi detido, pelo crime de burla qualificada, pelos militares do Núcleo de Investigação Criminal (NIC) de Santo Tirso da GNR, que lhe seguiram os passos a partir da denúncia de novas vítimas, um casal de idosos de Barcelos.
Tendo conhecimento de um diferendo familiar entre pais e filhos, por questões relacionadas com propriedades, o burlão arquitetou um plano para enganar os mais velhos: apresentando-se como juiz desembargador, garantiu ao casal de idosos, na casa dos 70 anos, que iria resolver-lhes o problema. Para tal, solicitou-lhes a entrega de oito mil euros, quantia que assegurou ser destinada a pagar a uma advogada de renome, já que o próprio não poderia envolver-se no processo, devido às funções que exercia.
O casal acabaria por acreditar no homem, só se apercebendo da burla após a entrega do dinheiro, e depois de constatar que não havia qualquer advogada a tratar do caso.
Detido pela GNR
Quando foi detido pela GNR, na passada quarta-feira, na Trofa, Manuel Leite Martins, de 64 anos, estava na posse de diversa documentação referente a outras pessoas, o que poderá indiciar que terá feito mais vítimas. Durante a busca efetuada pelos militares na casa onde o suspeito vive, foram ainda apreendidos um computador e dois telemóveis.
Natural de Aboadela, Amarante, Manuel Fernando Leite Martins tem um cadastro recheado de crimes reiterados de burla e falsificação de documentos, práticas em que se terá iniciado nos princípios dos anos 1980. A estes ilícitos juntou, em 1987, o de usurpação de funções, por ter-se feito passar por padre, crime que tornaria a replicar ao longo dos anos. Chegou a estar preso entre o final de 1989 e meados de 1995, acabando por ser novamente condenado a pena de prisão efetiva, anos mais tarde, por crimes semelhantes.
Segundo o JN apurou, foi ainda acusado de, a 24 de outubro de 1995, ter falsificado um documento. Um outro crime, de burla simples, terá sido praticado a 31 de março de 1998. Foi várias vezes declarado contumaz.
Em novembro de 2005, foi condenado, pelo tribunal de Caminha, a três anos de prisão por burla qualificada. Pena que, no entanto, esteve sujeita a cúmulo jurídico, por o homem se encontrar a cumprir pena de prisão, à altura da sentença, por outros crimes idênticos. O caso remonta a agosto de 1998, quando Manuel Fernando Leite Martins, intitulando-se novamente padre e envergando um cabeção (colarinho usado pelos padres), adquiriu uma autocaravana a um residente de Vilarelho, em Caminha, com um cheque de 19 mil euros sem cobertura.
Também esteve preso entre março de 2010 e julho de 2012, no estabelecimento prisional de Paços de Ferreira, por burla qualificada. No início de 2013, Manuel Fernando Leite Martins alarmou a vila do Coronado, na Trofa, onde chegou envergando uma cruz ao peito e um inusitado título: Dom Manuel Martins Leite, nome que também deu à alegada instituição de solidariedade que tentou criar na freguesia em S. Romão. Acabaria, contudo, por ser desmascarado antes de conseguir concretizar os intentos. Em 2018, foi condenado a prisão domiciliária por ter coagido e ameaçado de morte jornalistas.