Faz esta quinta-feira três meses que o Ministério Público anunciou a abertura de um inquérito às mortes causadas por um surto de legionela na zona litoral Norte do Porto.
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"Somos os esquecidos. Morreram 15 pessoas e ninguém diz absolutamente nada!", atira, revoltada, Renata Martins. Três meses e meio depois, "nem Câmara, nem Saúde, nem Ministério Público (MP). Nem um telefonema".
O pai, José Silva, de 73 anos, continua a recuperar. Foi um dos 88 infetados no surto de legionela que, em outubro e novembro, atingiu os concelhos de Matosinhos, Vila do Conde e Póvoa de Varzim, matando 15 pessoas. Renata Martins continua à espera de respostas. Ela, as vítimas e as famílias dos outros 87, mas a culpa parece cada vez mais perto de "morrer solteira". Faz hoje três meses que o Ministério Público abriu um inquérito, ainda sem resultados. Ao JN, observou que o caso continua em segredo de justiça.
"Ninguém quer saber! É muito triste!", afirma Renata. A 24 de outubro, José Silva foi de metro ao Hospital de S. João, no Porto, fazer teste à covid-19. Ia fazer uma cirurgia simples, mas o teste era obrigatório. Uma semana depois, sem aviso, veio a febre. Dois dias depois, o coma. Rins a falhar, coração fraco, pulmões a fraquejar. Escapou "por um triz", mas as sequelas são muitas. "Já come sozinho, mas andar ainda não consegue", conta a filha.
Surto mais mortal
O surto foi o mais mortal de sempre de legionela registado em Portugal, mas a demora na ação das entidades de saúde pública pode ter apagado o rasto da bactéria. O JN noticiou em dezembro: entre o início do surto e as visitas às primeiras empresas passaram nove dias. Tempo suficiente para limpezas. Só 14 dias depois foi suspenso o funcionamento nas torres de refrigeração da Longa Vida e a verdade é que o genótipo da bactéria lá detetada não coincide com as encontradas nos doentes. A fonte continua por identificar.
A Administração Regional de Saúde (ARS) do Norte e as delegações de saúde mantêm o silêncio. A ARS nunca respondeu à Câmara de Matosinhos. Póvoa de Varzim e Vila do Conde continuam à espera da reunião com a delegação de saúde. Às famílias "zero". Avisos à população, nada.
Falta de pessoal
As câmaras da Póvoa de Varzim e de Vila do Conde cederam técnicos para ajudar nos inquéritos epidemiológicos e a Saúde não quis. A denúncia foi feita, há duas semanas, pelo autarca da Póvoa. Aires Pereira lamenta que, em tempo de guerra, não se unam esforços.
Exigida resposta
A presidente da Câmara de Vila do Conde apela à autoridade de saúde e ao MP para que divulguem as causas do surto.