Investigadores aguardam provas, com ou sem Rui Pinto. Hacker colabora com justiça francesa, que pode opor-se a extradição.
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O material informático apreendido pelas autoridades húngaras, aquando da detenção de Rui Pinto, foi selado e deverá ser enviado para a Polícia Judiciária, independentemente de o pirata ser ou não extraditado para Portugal.
São computadores, discos externos e telemóveis, que podem ser essenciais para os inspetores apurarem como Rui Pinto acedeu aos sistemas informáticos, entre outros, do fundo Doyen Investment Sports, que financia passes de jogadores e treinadores.
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É o tribunal húngaro - que interrogou e sujeitou Rui Pinto a prisão domiciliária, sem restrições de acesso à Internet, ontem - que vai decidir os "timings" do envio do material informático. Mas, segundo as informações recolhidas pelo JN, as autoridades portuguesas dão como garantido o envio das provas apreendidas na casa de Rui Pinto, em Budapeste. O acervo pode ser útil não só em relação ao caso Doyen, como a eventuais ataques ao correio eletrónico de responsáveis benfiquistas, entre outros, por Rui Pinto, de 30 anos, que é suspeito de crimes de acesso ilegítimo, violação de segredo, ofensa a pessoa coletiva e tentativa de extorsão.
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A primeira diligência de Rui Pinto no tribunal da Hungria, após o cumprimento do mandado de detenção europeu emitido a pedido do Ministério Público (MP) luso, não correu exatamente como esperado. O MP húngaro promoveu a prisão preventiva do suspeito, mas a juíza entendeu que bastava mandá-lo para casa com pulseira eletrónica. Por outro lado, a defesa de Rui Pinto, ali assumida por um advogado húngaro, opôs-se à entrega imediata a Portugal do pirata de Gaia, pelo que a decisão final pode demorar dois meses, até porque ainda será preciso traduzir o mandado, o que não tinha acontecido.
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Além disso, surgiu o que pode vir a constituir um obstáculo às pretensões dos investigadores portugueses. William Bourdon, advogado francês que defendeu o ex-analista da NSA Edward Snowden e está agora com Rui Pinto, fez saber que este seu cliente estava a colaborar com as autoridades francesas e preparava-se para fazer o mesmo com as suíças, em investigações abertas graças às revelações do Football Leaks. E, de caminho, pôs-se em cima da mesa a possibilidade de França e Suíça, interessadas em preservar aquela colaboração com o português, tomarem posição, na Hungria, contra a sua entrega a Portugal.
Ontem à tarde, o JN perguntou justamente à Procuradoria-Geral da República se tinha conhecimento, antes da emissão do mandado, da colaboração de Rui Pinto com a justiça francesa, e, por outro lado, se a oposição desta à entrega do suspeito era plausível. Mas o gabinete da procuradora-geral, Lucília Gago, remeteu-se ao silêncio.
Pela manhã, o advogado português da equipa que defende o suspeito, Francisco Teixeira da Mota, assumia que "o sistema do mandado de detenção europeu tem muito poucas possibilidades de oposição".