Vítima de sequestro foi atraída para casa abandonada, na Gafanha do Carmo, onde foi espancada e colocada na mala do próprio carro.
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Fábio Roque, de 29 anos, ainda mal acredita que está em casa, são e salvo, na Gafanha da Nazaré, em Ílhavo. Na terça-feira, foi vítima de um sequestro perpetrado por quatro jovens - dois rapazes e duas raparigas, com idades entre os 16 e os 23 anos -, que quiseram utilizar o seu automóvel para viajar até ao Algarve. Foi salvo pela GNR, já em Ourique, depois de mais de quatro horas trancado na mala do carro.
"O problema não é o físico, que esse acaba por passar, mas sim o psicológico. É uma marca que vai ficar para a vida", realça Fábio, que como resultado da agressão que sofreu ficou com ferimentos na boca, na cabeça e numa costela.
O jovem recorda que tinha combinado com um colega, Francisco, irem a um café na Gafanha da Encarnação, onde se costumam encontrar. "Quando lá cheguei, deviam ser umas 14 horas, ele não estava e eu telefonei-lhe. Disse-me que estava em casa de um amigo, o Adérito, que eu não conhecia, e eu fui lá ter com eles, à Gafanha do Carmo", recorda o jovem, ao JN.
À chegada ao interior do que, afinal, "era uma casa abandonada", Fábio conta que encontrou os dois jovens acompanhados por duas raparigas, menores de idade, que se veio a saber estarem fugidas, desde a semana passada, de uma instituição de Oliveira de Azeméis e que terão conhecido Francisco e Adérito através das redes sociais. "Elas estavam lá deitadas nuns colchões e eles mandaram-nas sair do quarto e começaram logo a espancar-me, sem dizerem o porquê. Fiquei quase inconsciente e perdi a noção do tempo", adianta o jovem.
Não sabe quanto tempo depois, Fábio diz ter sido transportado para a mala do seu próprio carro, um Fiat Punto, onde o trancaram. E só aí, depois a viagem ter começado, é que o jovem foi ouvindo as conversas dos sequestradores - que, garante, "estavam visivelmente alcoolizados" - e percebendo o plano: "queriam ir até ao Algarve, que era o mais longe possível da instituição delas e elas estavam a par de tudo o que ia acontecer".
"Atestaram o depósito e fugiram"
"Antes de entrarem na A17, atestaram o depósito numas bombas e fugiram sem pagar", explica Fábio, recordando que a sua sorte foi "terem-se esquecido" de lhe tirar o telemóvel. Com o dispositivo em sua posse, o jovem recorda que pediu para ir à casa de banho, quando os sequestradores pararam o carro numa área de serviço. E terá sido aí que fez "uma chamada de cerca de 10 segundos" para a cunhada, a contar-lhe rapidamente o sucedido. "Foi a minha salvação. Estou vivo, mas podia não estar".
Após um alerta feito pela família de Fábio Roque, a GNR encetou uma perseguição aos sequestradores. Os militares acabariam por os apanhar em plena autoestrada, já em Ourique.
Os quatro sequestradores foram detidos e entregues à guarda da Polícia Judiciária. E, esta quinta-feira, estava agendado serem apresentados a um juiz de instrução criminal, onde conheceriam as medidas de coação. Já Fábio, devido aos ferimentos, foi assistido no Hospital de Santiago do Cacém, antes de regressar a casa, onde vive com os pais. Segundo o JN apurou, os dois sequestradores do sexo masculino - um a residir na Gafanha do Carmo e outro na da Encarnação - já estavam referenciados pelas autoridades locais, há vários anos, por furtos e roubos.