A Polícia Judiciária de Setúbal encontrou, na quarta-feira, ossadas humanas, enroladas num lençol, no interior de um poço com cerca de cinco metros de profundidade, junto a uma instituição de acolhimento de jovens em risco, em Palmela.
Corpo do artigo
Na quinta-feira, ainda não havia resultado dos exames que poderão ajudar a esclarecer a causa da morte e a identidade da vítima, mas tudo aponta para que se trate de Lucas Miranda, o jovem de 15 anos que, em outubro do ano passado, foi dado como desaparecido da instituição.
Lucas tinha sido institucionalizado, a 2 de outubro de 2020, no Centro de Jovens Tabor, em Brejos do Assa, Palmela, a pedido da mãe adotiva. Depois disso, fugiu seis vezes da instituição, mas foi sempre localizado e regressava. Até que, no dia 15 de outubro, desapareceu e não voltou.
PJ recebeu boas pistas
No início desta semana, a Polícia Judiciária de Setúbal recebeu a informação de que Lucas tinha sido assassinado, por um grupo de jovens das suas relações, e de que o corpo tinha sido abandonado num poço, junto ao Centro de Jovens Tabor.
Os Bombeiros Sapadores foram então acionados pela Judiciária e, após a localização do poço, que outrora servia de apoio a uma moradia, o corpo foi encontrado em avançado estado de decomposição. Restavam praticamente as ossadas, que foram removidas pelos bombeiros e transportadas para a morgue, onde, agora, serão objeto de autópsia médico-legal, para confirmar se se trata de Lucas e tentar encontrar pistas sobre como morreu. A tese de assassinato é, para já, a que se afigura mais provável.
Covid desestabilizou
Até ao início do primeiro estado de emergência, em março do ano passado, Lucas era descrito como um jovem alegre e bem-disposto, apesar de sofrer de uma doença psiquiátrica. Mas, com o confinamento, não só deixou de jogar futebol no Barreirense e de frequentar a escola, como começou a revelar comportamentos violentos, que levaram a mãe a recear pela sua própria segurança.
Ao mesmo tempo, apurou ainda o JN, Lucas envolveu-se com grupos violentos do Vale da Amoreira, na Moita. Imagens partilhadas nas redes sociais mostraram-no na companhia de jovens encapuzados que, nalguns casos, exibiam armas. E, já em setembro, o jovem terá estado envolvido num assalto à própria casa, após o qual foram detidos dois dos assaltantes. Lucas integraria o grupo de assaltantes, mas fugiu do local antes da chegada da Polícia.
De qualquer modo, aquele assalto não estará relacionado com o provável homicídio de Lucas, apurou o JN junto de fonte da investigação.
Testemunhas
Visto a embarcar no Barreiro e a mendigar no Vale da Amoreira
Entre outubro e o início desta semana, a PJ recebeu dicas sobre a localização do jovem nos seus últimos tempos de vida. O padrasto de Lucas disse, em janeiro, tê-lo avistado a embarcar em transporte fluvial no Barreiro, em direção a Lisboa. Além disso, o jovem também terá sido visto a mendigar nas ruas do Vale da Amoreira. A Polícia Judiciária avaliou pistas, procurou-o no Vale da Amoreira, mas nunca o localizou. Entretanto, a investigação prossegue, sem notícia, até ao final do dia de ontem, de detenções.
Pormenores
Cão junto ao corpo
Junto às ossadas humanas encontradas dentro do poço estava o cadáver de um cão, que poderá ter caído ao seguir o cheiro.
Poço estava tapado
Os Bombeiros Sapadores de Setúbal retiraram madeira e galhos de árvores que escondiam a boca do poço onde se encontrava o cadáver. Aquele material terá sido ali colocado para esconder o acesso.
Clubes lamentam
Os clubes de futebol do distrito de Setúbal, Barreirense e Alfarim, de Sesimbra, lamentaram a morte do jovem futebolista.