PJ deteve dois suspeitos de assassinar rapaz institucionalizado por asfixia e atirar corpo a um poço, em Palmela. Têm 16 e 17 anos.
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Lucas Miranda, de 15 anos, morreu durante o que terá sido um "jogo de morte" entre rapazes, ao que tudo indica por asfixia, numa espécie de prova de resistência e coragem. A Polícia Judiciária (PJ) deteve dois jovens, de 16 e 17 anos, que, tal como Lucas, estavam institucionalizados no Centro Jovem Tabor, em Palmela. Terão depois atirado o corpo embrulhado num lençol para um poço seco, situado perto. Por isso, para além do crime de homicídio, são suspeitos também do de profanação de cadáver.
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Um dia antes de ser morto, a 14 de outubro passado, Lucas confidenciou a um amigo que odiava estar no Centro, onde chegara dias antes. Tinha sido para ali mandado a pedido da própria mãe, que tinha medo do seu comportamento cada vez mais violento. Os amigos apontam o dedo a más companhias que Lucas arranjara desde o início da pandemia e que o fizeram perder o contacto com os parceiros da bicicleta e do futebol. Chegou a estar envolvido num assalto à casa onde residia com a mãe, em setembro, dias antes de dar entrada no Centro.
Fugas frequentes
A PJ acredita que Lucas foi morto pelos colegas de instituição de acolhimento, num momento de futilidade, cujas circunstâncias ainda não foram completamente esclarecidas, mas estarão relacionadas com desafios de resistência e coragem para aguentar situações limite de perigo, incluindo da própria vida. A causa da morte poderá ter sido asfixia, acreditam as autoridades, apesar do adiantado estado de decomposição do corpo.
Os dois detidos, de Setúbal e da Moita, estavam há mais de um ano no Centro de Palmela por ordem da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens em Risco, devido a furtos e roubos. Tal como Lucas, costumavam fugir frequentemente. A vítima escapou-se por seis vezes, mas era sempre localizada e regressava
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A 15 de outubro, quando Lucas desapareceu, a suspeita de crime não surgiu logo que a sua mãe deu o alerta. Pensou-se que tinha sido mais uma fuga.
O primeiro rumor apontando para homicídio chegou em novembro. Já dava conta de que o corpo do jovem estaria num poço, mas algures no concelho da Moita. A PJ de Setúbal foi sendo confrontada com denúncias que apontavam ora para presença de Lucas no Algarve ou em Lisboa, ora para o seu homicídio. O padrasto garantiu até tê-lo visto entrar num barco, no Barreiro, para Lisboa, em dezembro.
Só quatro meses depois do desaparecimento, a 15 de fevereiro, chegou uma denúncia à PJ indicando a localização exata do corpo e a forma como tinha sido morto, por dois jovens. Quando foi encontrado, tapado por ramos de árvores e vegetação, só restavam praticamente ossadas. Volvidas duas semanas, foram detidos os suspeitos que, à hora do fecho desta edição, continuavam a ser ouvidos por um juiz.
Os jovens foram entretanto libertados e terão de regressar à instituição onde estavam. O Centro de Jovens Tabor de Setúbal disse este sábado que não concorda que tenha de voltar a acolher os dois jovens suspeitos do homicídio de outro jovem da instituição, mas vai recebê-los.