Agricultores portugueses preparam corte de estradas e fronteiras a partir de quinta-feira, juntando-se ao movimento europeu nascido em França que tem causado bloqueios em vários países. As autoridades estão informadas sobre os planos de protesto.
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Desde as primeiras horas de terça-feira que as forças de segurança estão a observar e monitorizar os movimentos que possam colocar em causa a segurança e tranquilidade sociais, no âmbito dos protestos do setor agrícola marcados a partir de quinta-feira, 1 de fevereiro. As autoridades estão prontas para intervir no sentido de assegurar a manutenção da ordem pública.
Inspirados pelos protestos dos movimentos agrícolas desta semana em França, que entretanto já se espalharam para Espanha, movimentos de agricultores portugueses estão também a preparar bloqueios de estradas a partir de amanhã, numa ação coletiva que esperam ter adesão e impacto nacional.
Segundo apurou o JN, estão previstos bloqueios nas principais fronteiras, mas também em passagens de menor dimensão, a partir das 2 horas da madrugada. Na região de Trás-os-Montes, o plano é bloquear todas as fronteiras e, no Minho, prevê-se o corte da fronteira de Valença. Nas Beiras, está planeado o bloqueio da fronteira de Vilar Formoso e outras pequenas fronteiras ao longo da raia beirã.
No Alentejo, os agricultores devem deslocar-se para as fronteiras do Caia, no concelho de Elvas, e do Retiro, perto de Badajoz, bem como para Olivença, Mourão e Ficalho (Baixo Alentejo). No Algarve, o plano é bloquear Castro Marim e, em Alcácer do Sal, os agricultores preveem cortar a A2 e avançar para Pegões. No Ribatejo, está em preparação o corte da A2, no sentido Lisboa-Porto. E em Montemor, está em vista o bloqueio da A6 no nó de Montemor e a estrada que vai para Sines, para cortar o acesso ao porto.
Reclamam melhoria de condições e valorização do setor
Na iniciativa participa o recém-formado Movimento Civil pela Agricultura, que se apresenta como "um movimento civil e apartidário que une agricultores e sociedade civil em defesa do setor primário". Num documento divulgado hoje, o movimento detalha que, a partir das 8 horas de dia 1 de fevereiro, "os agricultores vão para as estadas portuguesas com máquinas agrícolas e outras viaturas pesadas lutar pelo direito humano à alimentação adequada, por condições justas e pela valorização da atividade", convidando a sociedade civil a juntar-se à causa. "Os agricultores portugueses estão unidos e preparados para se defenderem da tirania e ataque permanente à sustentabilidade, à soberania alimentar e à vida rural", pode ler-se na nota.
O Movimento Civil pela Agricultura insta a tutela a implementar várias medidas com efeito imediato, entre as quais: um suplemento para agricultores jovens e outros apoios à produção, nomeadamente de culturas de cereal, de forma a diminuir a necessidade de importação; seguros de colheita "com valores mais realistas"; redução dos impostos no gasóleo colorido; e promoção do pastoreio através do aumento do valor dos animais em regime extensivo em relação aos estabulados. Entre outas reivindicações, os agricultores também apelam ao chumbo do acordo da Mercosur na União Europeia e à renegociação do Plano Estratégico da Política Agrícola Comum.
Protesto de agricultores franceses cercou Paris
Os agricultores portugueses juntam-se, assim, às ações conjuntas do setor levadas a cabo em França, Espanha, Itália, Bélgica, Alemanha, Polónia e Roménia. No âmbito do movimento, os agricultores franceses bloquearam ontem vias estratégicas em torno de Paris e outros pontos do país, aumentando a pressão sobre o Governo. Os agricultores têm protestado desde há vários dias em toda o país para pressionar o Governo a responder às exigências de melhor rendimento pelos seus produtos, menos burocracia e proteção contra importações baratas.