Francisco J. Marques: "Era muito clara a subserviência de Mário Figueiredo ao Benfica"
O diretor de comunicação do F. C. Porto, Francisco J. Marques, disse, esta manhã de quinta-feira, em tribunal, que, na troca de emails com o Benfica - a que o Porto Canal teve acesso e que divulgou em 2017 -, "era muito clara a subserviência" que Mário Figueiredo, antigo presidente da Liga, tinha em relação ao clube encarnado.
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O arguido, que é julgado por oito crimes, esteve no Campus de Justiça, em Lisboa, a justificar porque é que a divulgação de emails num órgão de comunicação social tinha interesse público.
Referindo-se a uma troca de emails entre Mário Figueiredo, presidente da Liga entre 2012 e 2014, e Paulo Gonçalves, assessor jurídico da SAD do Benfica, Francisco J. Marques disse que se trata de "um caso claríssimo de interesse público".
"Ali fica muito evidente que o Mário Figueiredo estava ao serviço do Benfica. Às escondidas de toda a gente, havia troca de mensagens, e isso tem implicações em tudo. O período de maior sucesso desportivo do Benfica foi nestes anos. Conseguiu ganhar quatro campeonatos seguidos, nunca tinha conseguido", argumentou Francisco Marques, que esteve a ser questionado durante uma hora pelo seu advogado, Nuno Brandão.
O diretor de comunicação do F. C. Porto reportou-se a um email que terá sido enviado por Nuno Cabral, então delegado da Liga, a Paulo Gonçalves, a queixar-se de "não ter tido jogos da I Liga" nessa época. O assessor do Benfica terá depois contactado Mário Figueiredo a pressioná-lo para "ajudar" o delegado da Liga.
O diretor de comunicação do F. C. Porto disse ainda que o "presidente da Liga à época andava a partilhar informação confidencial com o clube e a enviá-la antecipadamente", o que considerou ser "completamente inaceitável". "É óbvio que, se não divulgássemos, iriam continuar nestas práticas", defendeu o arguido.
Questionado por Nuno Brandão sobre se a partilha de informação significava invasão de privacidade, Francisco J. Marques disse que não, justificando que "esta informação não tem nada de pessoal". "Eram mensagens trocadas no exercício das suas funções, é irregular e provavelmente será ilegal. Do ponto de vista ético, é grau zero, pior que isto impossível", argumentou.
"Apoio à claque pela porta do cavalo"
Noutra troca de emails, de dezembro de 2017, Francisco J. Marques garante que ficou "muito evidente que o Benfica prestava apoio à claque No Name Boys pela porta do cavalo". "O clube dizia publicamente que não apoiava, mas não era o que acontecia. Mais uma vez, esta duplicidade, querem parecer uma coisa e fazem outra por trás. Os clubes estão impedidos de apoiar claques não legalizadas", referiu.
Reportando-se também a uma conversa, sobre o jogo Portugal-Hungria, em que intervém Paulo Gonçalves, o arguido disse que é possível perceber que "a Federação [Portuguesa de Futebol] pagou ilegalmente ao Benfica 50 mil euros pelo aluguer do estádio". "Sempre que há um jogo da seleção nacional, o detentor do estádio recebe um valor para ajudar a pagar as despesas", recordou Francisco J. Marques, para sublinhar que, além desse valor o Benfica recebeu, "pela porta do cavalo, mais 50 mil euros". "Posso pensar que este dinheiro serviu para encher o saco azul ou outras coisas", referiu o arguido.
Francisco J. Marques esteve, durante uma hora, a justificar os motivos por que o Porto Canal decidiu partilhar o conteúdo de emails do Benfica no seu programa "Universo de Bancada", em 2017.
O interesse público da "bruxaria"
Outro dos casos mais polémicos prende-se com o clube encarnado ter alegadamente recorrido a serviços de bruxaria.
"Isto é uma situação bastante invulgar. Tem interesse público porque não se trata simplesmente de contratar serviços de um bruxo pontualmente para que aconteça qualquer coisa que me seja favorável, isto é fazer um contrato. Isto, cruzado com o discurso de Luís Filipe Vieira, que, na altura, dizia que o clube estava dez anos à frente da concorrência, é completamente contraditório. Foi isto que fez com que eu e o Diogo Faria estivéssemos de acordo em que se devia revelar isto por se tratar de interesse publico", defendeu.
Francisco J. Marques é um dos três arguidos no julgamento dos emails do Benfica, que começou em setembro. Júlio Magalhães, ex-diretor do Porto Canal e Diogo Faria, diretor de conteúdos do canal dos dragões, também são arguidos neste processo. Júlio Magalhães vai prestar declarações em tribunal no próximo dia 21.