O ex-diretor-geral do Porto Canal Júlio Magalhães atribuiu esta quarta-feira ao F. C. Porto a "responsabilidade" pelo conteúdo do programa da estação onde foram divulgados os e-mails do Benfica.
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"A minha única responsabilidade foi não ter querido intrometer-me nessa matéria, porque também não queria que interferissem nos restantes 90% da grelha do Porto Canal", afirmou em tribunal Júlio Magalhães, que entretanto abandonou a estação.
O jornalista está acusado de três crimes de violação de correspondência ou telecomunicações e um de ofensa a pessoa coletiva, por, alegadamente, não ter travado a emissão do programa, entre junho de 2017 e fevereiro de 2018, apesar de conhecer o seu conteúdo.
O diretor de comunicação do F. C. Porto, Francisco J. Marques, que leu as mensagens no programa "Universo Porto - da bancada", e o atual diretor de conteúdos da estação, Diogo Faria, que selecionou os e-mails subtraídos por terceiros do sistema informático dos encarnados, estão igualmente a ser julgados em Lisboa.
Poderia "ser despedido"
Esta quarta-feira, Júlio Magalhães reiterou que nunca conheceu previamente o conteúdo dos e-mails ou dos episódios em causa. "A única coisa de que me lembro disto foi do Francisco [J. Marques] ter dito que aquilo nunca teria matéria do foro pessoal e privado", frisou.
Júlio Magalhães garantiu ainda que não tinha poder para pôr fim ao programa, inserido nos 10% da programação destinados à "projeção da marca" F. C. Porto e produzidos por este. Confrontado com o facto de tal não constar do seu contrato, precisou que existia um "acordo" com a administração do clube. Se o rompesse, poderia "ser despedido", disse.
O ex-diretor do Porto Canal ressalvou, contudo, que não equacionou acabar com o programa. "Os conteúdos tinham, de facto, interesse público", defendeu. Além disso, nunca pensou que "não estivessem caucionados juridicamente" pelo F. C. Porto.
PORMENORES
J. Marques defende-se
O diretor de comunicação do F. C. Porto, Francisco J. Marques, insistiu na semana passada que os e-mails tinham "interesse público", por revelarem um alegado "polvo" do Benfica no futebol profissional.
Faria assume seleção
No seu depoimento, Diogo Faria, atual diretor de conteúdos do Porto Canal, confirmou que lhe coube fazer a seleção de todo o material a divulgar no programa "Universo Porto - de Bancada" e que o fez guiado pelo "interesse público".
Alegações em janeiro
O julgamento, iniciado em setembro deste ano, está na sua reta final, tendo já sido ouvidos os arguidos e as testemunhas. A fase das alegações está agendada para o próximo mês de janeiro de 2023. Depois disso, o Tribunal Criminal de Lisboa decidirá se condena ou absolve os arguidos.