Testa de ferro do desembargador socorria-se de empresária da restauração para satisfazer necessidades básicas. Operação Lex acusou 17 arguidos.
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O advogado José Santos Martins, que a Operação Lex tem como amigo e testa de ferro de Rui Rangel, movimentou e geriu rendimentos não declarados deste juiz que ascenderam a um milhão de euros, entre 2012 e 2017, mas tinha de mendigar pequenos empréstimos para comer ou pôr gasóleo no carro.
"Não tenho um euro nem gasóleo para regressar a casa ao fim do dia", queixava-se Santos Martins, a 18 de agosto de 2017, em mensagem para Natércia Pina, empresária de restauração e uma das pessoas que terão financiado Rangel ao longo de anos. "Veja por favor se seria possível ir aos Sabores [Salteados, nome de restaurante da empresária] buscar 100 ou 120 euros".
Na acusação da Operação Lex contra 17 arguidos, que imputa ao desembargador da Relação de Lisboa 21 crimes e a Santos Martins 14 (em coautoria), sucedem-se os pedidos deste para satisfazer necessidades básicas. A 31 de outubro de 2017, por SMS, Santos Martins confessa mesmo que nem dinheiro tem "para comer". "Já trato", responde Natércia Pina, que pagava uma avença a outro advogado para a defender nos processos-crimes de que fora alvo.
Inquirida pela Polícia Judiciária, a empresária invocou amizade por Santos Martins para justificar os montantes que lhe entregou. Mesmo relativamente aos milhares de euros que se destinaram ao juiz, justificou que Santos Martins "sofria uma pressão concreta, constante, para entregar dinheiro a Rui Rangel, assemelhando-se a uma verdadeira situação de servidão".
Nas quase mil páginas da acusação, Santos Martins mais parece um tesoureiro, que disponibiliza contas suas e do filho para receber dinheiros, que, depois, manda levantar, transfere para outras contas ou usa para pagar diretamente despesas de Rangel, da esposa e juíza Fátima Galante, do filho de ambos e das namoradas do juiz. O clã tinha muitas despesas e não largava Santos Martins, que era, recorrentemente, tratado com despeito pelo casal de juízes.
PORMENORES
Natércia sem acusação
Natércia Pina não foi acusada. O MP identifica os seus processos, por crimes fiscais, mas não demonstra relação entre eles e os pagamentos feitos a Rangel.
Veiga pagou 345 mil euros
A PJ concluiu que o empresário José Veiga transferiu 345 mil euros para Rangel, através de José Santos Martins, entre 2012 e 2013. Veiga está acusado de corrupção ativa.