Tribunal de Contas condenou administradores do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa a pena de multa. Legalidade reposta após auditoria da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde.
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Cinco membros do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa (CHTS) foram condenados pelo Tribunal de Contas (TC) a penas de multa por terem nomeado, ao longo de 2019 e 2020, sem qualquer aviso, processo de seleção ou concurso 45 diretores de diversos serviços. A legalidade acabou por ser reposta no ano seguinte, com o lançamento de procedimentos concursais, após uma auditoria da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS).
Antes de 2017, as administrações hospitalares podiam nomear de forma discricionária qualquer funcionário para lugares de direção. Porém, nesse ano, as regras mudaram com a atualização da lei que regula o regime jurídico e os estatutos nas unidades de saúde. Os procedimentos com vista à nomeação de diretor de serviço passaram a ser objeto de aviso público, de modo a permitir a manifestação de interesse individual.
O espírito da lei é dar uma igualdade de oportunidade a quem queira subir na carreira no seio dos funcionários públicos da área da saúde. Mas, de acordo com a decisão do TC, a que o JN teve acesso, os cinco membros do Conselho de Administração do CHTS procederam, durante o triénio 2019/2021, a um conjunto de nomeações sem precedência de procedimento concursal.
mera Opção gestionária
O TC explica que os gestores assim procederam por "mera opção gestionária". A primeira deliberação considerada ilegal foi tomada a 29 de maio de 2019 e recaiu sobre os diretores dos departamentos cirúrgico, médico, de psiquiatria e saúde mental, urgência e emergência, cuidados intensivos, mulher e criança, assim como ambulatório.
Seguiram-se outras 16 deliberações com nomeações sem aviso em que o TC considerou terem sido violadas as regras de contratação pública e de acesso a promoções.
Além dos diretores de serviços, as deliberações também oficializaram as nomeações de dezenas de diretores-adjuntos, administradores, coordenadores e chefes de diversos serviços. Essas nomeações discricionárias não foram postas em causa, uma vez que a lei apenas obriga à realização de procedimentos no caso de diretores.
Na decisão, que já transitou em julgado e que responsabiliza os administradores a título pessoal, o Tribunal explica que os gestores agiram por negligência e, por isso, atenuaram especialmente o valor da multa, fixada em 13 unidades de conta, o que representa 1326 euros para cada um dos condenados.
Quando foi inquirido no processo, o presidente do Conselho da Administração declarou não ter a noção de que estivessem a fazer alguma coisa mal e que nomeavam as pessoas consideradas mais capazes.
Reação
Hospital explica ter reconduzido funcionários
O Conselho de Administração confirmou ao JN a condenação mas garante não ter existido qualquer prejuízo para o erário público. "As nomeações em causa, anteriores ao período da covid-19, foram, na grande maioria, reconduções de colaboradores que já vinham exercendo as funções anteriormente", explica fonte do Hospital, garantindo que se "tratava de uma prática generalizada nos diferentes hospitais de todo o país". O Conselho de Administração assegura que algumas saídas de dirigentes foram até "colmatadas com recurso a colaboradores internos (que não foram substituídos), com redução do número de colaboradores e com preocupação pela adequada gestão dos fundos públicos". Os administradores garantem que vão pagar a multa até ao dia 16 de janeiro.
Pormenores
Infração financeira sancionatória
Os administradores foram condenados pela prática de uma infração financeira de natureza sancionatória. Na prática, cada um dos gestores foi condenado a pagar do seu próprio bolso 1326 euros. A decisão, de outubro de 2022, já transitou em julgado.
Hospital serve 520 mil habitantes
O Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa tem uma unidade em Penafiel e outra em Amarante. Serve este dois concelhos e também Paredes, Paços de Ferreira, Marco de Canaveses, Felgueiras, Lousada, Castelo de Paiva, Baião, Celorico de Basto, Cinfães e Resende.