O Ministério Público está a investigar a venda de pistolas Glock do lote de 57 furtadas do armeiro da PSP ao grupo motard Hells Angels, na sequência de indícios recolhidos no inquérito que resultou, esta semana, na detenção de sete indivíduos, incluindo dois elementos da PSP, pelo furto das armas, em 2017.
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Segundo informações recolhidas pelo JN, pelo menos uma venda terá sido referenciada na investigação conduzida pela própria PSP. O rasto da transação surgiu depois do relato de uma das testemunhas fundamentais no processo sobre a entrega de uma arma a um dos elementos dos Hells Angels detidos no verão passado, após um ataque a um restaurante, no Prior Velho, em Lisboa. Ali estavam elementos do grupo motard rival Los Bandidos, seis dos quais acabaram no hospital.
Este grupo, tal como os Angels ligado ao crime violento, estaria prestes a implantar-se em Portugal, através de indivíduos com ligações à extrema-direita, incluindo Mário Machado. Após o raide da PJ, o inquérito acabou com 60 detidos por associação criminosa, tentativa de homicídio, roubo, ofensa à integridade física, posse e tráfico de armas proibidas e tráfico de droga.
A investigação procura ainda apurar se outras pistolas furtadas terão ido parar a este ou a outros grupos ligados ao crime organizado violento. Certo é já que o grupo responsável pelo furtos das armas, incluindo os dois agentes da PSP, Luís Gaiba (o alegado mentor) e David Chora, forneceram sobretudo traficantes de droga, em Portugal e Espanha, através de um civil, António Laranginha, parente de Gaiba. As armas mudavam de mãos após conversas em código entre os intervenientes. Para além das oito recuperadas em operações policiais relacionadas com o tráfico de drogas, nos dois países, mais nenhuma foi encontrada, segundo o que se sabe.
Tancos ligado às Glock
Laranginha foi preso esta semana pela PSP e é uma das várias personagens neste processo do furto das Glock com ligações ao assalto a Tancos, em junho de 2017. Terá estado presente na noite do furto e envolvido em supostas negociações para a venda de algum do armamento, sobretudo as 1450 balas de calibre 9mm (utilizáveis nas Glock) que nunca foram recuperadas. Aliás, é arguido neste processo.
Outra figura que surge em ambos os casos é João Paulino, o ex-militar com ligações ao tráfico de drogas que é apontado como mentor do assalto a Tancos e está em prisão preventiva desde que foi detido, em outubro passado, juntamente com o ex-diretor da Polícia Judiciária Militar e mais três elementos deste Polícia, para além de três militares da GNR de Loulé, todos envolvidos na recuperação encenada do armamento. Paulino está a ser investigado também pela eventual compra de várias das pistolas furtadas à PSP. Outro elemento comum é Paulo Lemos, o "Fechaduras", que terá dado indicações sobre como arrombar os paióis de Tancos e surge agora como uma das testemunhas fundamentais no caso das Glock.
Pormenores
Húbris - A Polícia Judiciária já desencadeou duas operações relacionadas com o assalto a Tancos. A primeira (Húbris) teve como alvo a recuperação das armas, encenada e preparada em conjunto com o mentor do assalto, João Paulo. Quatro elementos da Judiciária Militar e três GNR foram detidos.
Húbris II - Oito pessoas foram detidas por crimes de associação criminosa, furto, detenção e tráfico de armas, terrorismo internacional e tráfico de estupefacientes. São suspeitos de planearem e de executarem o furto de armamento nos paióis de Tancos.