O ex-ministro da Defesa, atualmente com a pasta dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, nega qualquer envolvimento no “contrato fantasma” de 61.500 euros, alegadamente feito à medida para Marco Capitão Ferreira, ex-secretário de Estado da Defesa, que se demitiu após a sua constituição como arguido.
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O semanário “Expresso” noticia esta sexta-feira que um dos principais arguidos do caso de corrupção na Defesa Tempestade Perfeita "implica" Gomes Cravinho, garantindo que o governante “tinha concordado” ou até “pedido” para se fazer um contrato de assessoria com Capitão Ferreira para o compensar e “pôr as contas em dia” pelos trabalhos realizados numa “comissão fantasma” que funcionava na órbita do seu gabinete.
O arguido em causa é Paulo Branco, que era responsável financeiro da Direção-Geral de Recursos de Defesa Nacional (DGRDN) e que foi recentemente acusado de corrupção e branqueamento de capitais, a par com o ex-diretor da Direção-Geral da DGRDN, Alberto Coelho. Além de Coelho, são acusados de corrupção outros seis responsáveis da DGRDN e o Ministério Público (MP) imputa crimes a um total de 73 arguidos. Entre 2018 e 2021, os empresários e os decisores públicos terão lucrado 1,4 milhões de euros em luvas e comissões ocultas.
Num interrogatório complementar prestado a 27 de junho e noticiado pelo “Expresso”, Paulo Branco diz que Gomes Cravinho quis “dar” um contrato a Capitão Ferreira como uma forma de o compensar pela assessoria prestada sem remuneração, no âmbito de uma revisão do sector empresarial do Estado da Defesa. Mais tarde, o então consultor que viria a assumir a secretaria de Estado da Defesa ganhava um contrato de assessoria técnica de 61500 euros, a ser executados em poucos dias.
Em comunicado enviado aos jornalistas, o agora ministro dos Negócios Estrangeiros nega qualquer envolvimento: “Repudio de forma veemente e inequívoca a sugestão feita na manchete do jornal Expresso, baseado aliás em informações pouco credíveis, como fica claro pela leitura do respetivo artigo. Partilho e reafirmo com total transparência as respostas enviadas ao referido semanário, e que retomam declarações públicas minhas sobre a matéria”.
Na mesma nota, é garantido que “o estudo não remunerado intitulado “Economia da Defesa Nacional - Vetores de atuação e papel do Estado” e o trabalho de assessoria técnica à negociação de um novo contrato para a manutenção dos helicópteros EH-101, cujos contornos foram definidos e operacionalizados pela DGRDN, representam dois processos distintos, não tendo havido qualquer orientação de João Gomes Cravinho no sentido de que o contrato de assessoria estabelecido pela DGRDN serviria de compensação pelos trabalhos realizados no âmbito do estudo respeitante à reestruturação das indústrias do setor”.
Marco Capitão Ferreira continua a ser investigado pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção da Polícia Judiciária por suspeitas de corrupção e participação económica em negócio.